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Apesar do crescimento das exportações em relação a 2016, o cenário econômico está distante do período pré-crise

 

Depois de seis anos consecutivos de queda, as exportações de Joinville alcançaram resultado positivo no ano passado. O total de vendas para o exterior atingiu US$ 1,07 bilhão, crescimento de 10% na comparação com os 12 meses de 2016 (US$ 970 milhões).

Mesmo com a recuperação, o cenário ainda está distante do níveis pré-crise. Em 2010, por exemplo, as empresas joinvilenses conseguiam vender acima de US$ 1,7 bilhão para o mercado internacional e a balança comercial fechava no azul – desde 2011, a cidade importa mais do que exporta. No ano passado, foram importados US$ 1,71 bilhão, déficit de US$ 640 milhões.

Os dados são do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), que indica ainda elevação das importações depois de dois anos de queda.

A alta em 2017 chega a 17% em relação ao acumulado nos 12 meses imediatamente anteriores, quando atingiu US$ 1,46 bilhão. A quantia também é 16% maior que o total de compras no exterior no início da década (US$ 1,47 bilhão), época em que a balança comercial da cidade operava com saldo positivo de US$ 231 milhões.

Aumento nos custos da matéria-prima no mercado interno impacta setor

Fernanda Garcia, presidente do Núcleo de Negócios Internacionais da Associação Empresarial de Joinville (Acij), avalia que um dos fatores de maior relevância para o déficit da balança comercial é o aumento dos custos da matéria-prima no mercado interno, o que impacta diretamente no preço final do produto. Além disso, contribui o fato de Joinville ter mais empresas importadoras do que exportadoras de insumos e a própria economia brasileira.

– Por conta do perfil das empresas joinvilenses, de fabricação e industrialização de produtos manufaturados de maior valor agregado, foi necessário buscar novas alternativas para não fecharem as portas diante do cenário econômico brasileiro. A maioria encontrou a solução em desenvolver fornecedor no exterior para manter o equilíbrio, mesmo sofrendo variação cambial. Isso se dá pelo fato de que produzir no Brasil custa muito caro. Algumas delas ainda comentam que muitos dos seus fornecedores brasileiros também foram forçados a importar, por não conseguirem competir com o valor praticado no mercado externo e do alto custo de produção no Brasil – explica.

A desaceleração do consumo no mercado interno também é vista como influenciador, mas, na análise da especialista, demonstra oportunidade para que as empresas joinvilenses busquem entender a exportação, vista como uma chance de equilibrar o faturamento com as vendas nos mercados interno e externo.

Sinal de recuperação, diz especialista

Especialista em direito internacional, a advogada Maysa Fischer aponta que o déficit continuado na balança comercial joinvilense reflete o que acontece com o Brasil no mercado externo. Apesar do país ter registrado em 2017 o maior superávit comercial da história, US$ 67 bilhões, quase 20% maior do que em 2016, as importações foram de US$ 150 bilhões, 9,6% a mais que no mesmo período do ano passado conforme os dados do MDIC.

A explicação está na escalada na importação de bens de capital, em especial máquinas e equipamentos, o que não ocorria desde março de 2013. O resultado, segundo ela, se mostra importante na retomada de investimentos produtivos.

— Com este cenário, o Brasil e muito especialmente Joinville voltam a trilhar o bom e necessário caminho do arrojo produtivo, com foco na competitividade mediante à evolução tecnológica dos processos fabris, bem como com a racionalização do custo industrial e das despesas fixas e variáveis. O que na última linha contribui para a redução do custo Brasil, que é o maior inibidor da expansão da presença dos manufaturados brasileiros em outras regiões mundo a fora. Joinville é um centro manufatureiro por excelência com produtos world class, e o ânimo exportador que fortemente tomou conta dos negócios em 2017 deve permanecer em franco desenvolvimento — aposta Maysa.

ACIJ trabalha na capacitação para o mercado internacional

Parte da segurada nos investimentos ainda se dá pelo receio dos pequenos e médios empresários quando o assunto é exportação. De acordo com a presidente da Acij, Fernanda Garcia, entre os medos estão o entrave da cultura, o entendimento da operação e o desconhecimento do mercado internacional.

— Muitos deles (empresários) ainda têm receio de exportar por acharem que terão que investir ou alterar seu produto para se adequar ao mercado exterior — acrescenta.

Para sanar esse descompasso, o Núcleo de Negócios Internacionais da associação empresarial destaca a realização de trabalho de capacitação junto aos micro e pequenos empresários que desejam entrar no mercado externo. As expectativas também são positivas quanto ao crescimento na balança comercial brasileira neste ano.

A explicação é de que as empresas estão confiantes em seus negócios, após as turbulências e aprendizados obtidos do ano passado.

Relações comerciais

Os países da América seguiram em 2017 como os principais compradores dos produtos de Joinville, mantendo o resultado de um ano antes. Juntos, Estados Unidos, México e Argentina representaram quase metade da receita obtida pelas empresas de locais a partir de negócios realizados fora do país. A liderança na participação das exportações é ocupada pelos EUA, com fatia de 26,52%, decorrente dos cerca de US$ 284 milhões adquiridos em produtos. Já México e Argentina contabilizaram, na ordem, 14,24% e 8,2% de participação.

Considerando as importações locais, os destaques são os mercados da China, do Chile e da Argentina, que, juntos, somaram 55,65% de participação, dentre os parceiros comerciais que venderam produtos para empresas da cidade no ano. Foram cerca de US$ 690 milhões em importações provenientes da China; US$ 148 milhões do Chile e US$ 114 milhões do país vizinho.

O município mantém outros resultados importantes com negócios fechados no comércio europeu. O Reino Unido e a Itália aparecem como o quarto e quinto colocados entre os territórios com maior montante de compra, tendo exportado US$ 49 milhões e US$ 47 milhões em doze meses. No ramo das importações, a Alemanha é a quarta nação que mais forneceu (em valores) insumos para Joinville: US$ 88 milhões.

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Produtos em destaque

O balanço mostra que a lista dos principais itens de exportação de Joinville foi dominada, especialmente, pelos produtos manufaturados (US$ 1,04 bilhão), depois apareceram materiais básicos (US$ 13,7 milhões) e semimanufaturados (US$ 11,8 milhões). O destaque, em 2017, ficou por conta das peças destinadas aos motores de pistão de ignição por faísca (explosão) e compressão, com participação de 35,91% do total exportado – 185 mil toneladas. Na sequência apareceram as bombas de ar ou de vácuo, compressores de ar e exaustores, com parcela de 28,81% – 89 mil toneladas.

Os manufaturados também lideraram os valores de importação: US$ 1,4 bilhão ante US$ 235 milhões dos semimanufaturados e US$ 45 milhões dos itens básicos. O cobre afinado e ligas de cobre, em formas brutas, somaram 8,45% de participação e 23,4 mil toneladas, enquanto os aquecedores elétricos de água e ambientes, além dos eletrotérmicos (secadores de cabelo, frisadores, aquecedores), alcançaram 5,81% e 23,2 mil toneladas.

Segunda colocada neste indicador em 2016, a importação de automóveis de passageiros e outros veículos de uso misto e de corrida, por exemplo, teve queda de 83,52% de um ano ao outro, ficando na 28ª posição: reduziu as importações, em valores, dos US$ 107 milhões para US$ 17,6 milhões.