Um brinde ao vinho?

Frequentes são as críticas diante dos acontecimentos no campo da política, economia, gestão pública, só para enumerar alguns setores e não ter que se estender a um rosário de lamentações. Também, comuns e repetitivos, correspondem os argumentos dos que usufruem das benesses à moda, “uma mão lava a outra”. Na linha de raciocínio onde se pretende levar vantagem pondo o dinheiro à frente dos resultados, no popular linguajar, “o carro à frente dos bois”, conclui-se que houve, nesse contexto, dos primórdios até hoje, pouca evolução. Uma lástima!

Agora nos parreirais 
As manchetes estampando trabalho escravo em todos os cantos do país são provas testemunhais. Desculpas esfarrapadas e muito bem embasadas, como “ah, mas não era bem assim ou a culpa foi de quem contratou, e ainda, nossa empresa age dentro da legalidade”. Não foi bem isso que o Ministério do Trabalho encontrou nos vinhedos de altitudes da serra gaúcha, por sinal, bem conceituados em seu paladar, segundo as premiações dentro e fora do país.

Definição
Quem troca sua terra para se aventurar em outras plagas, só o faz por necessidade em crescer profissional e financeiramente, jamais se submeter ao processo escravizante. Aliás, uma definição do MT retrata muito bem o assunto abordado: “No Brasil, a condição análoga à escravidão consiste em submeter uma pessoa a condições degradantes, ao trabalho forçado, a jornadas exaustivas e à servidão por dívida”. As quatro práticas, conjunta ou isoladamente, configurando crime, previsto no Código Penal, foram encontradas no ambiente. Como se não bastassem, os clandestinos da Argentina, sem contar tais condutas em outros segmentos.

História que se repete

Não é uma prerrogativa dos parreirais, aqui mesmo na serra catarinense há bem pouco se constatou nas plantações de macieiras. A colheita do fruto proibido, com mãos escravizadas, não exala sabores do paraíso. Triste ao ponto de lembrar uma história narrada na sua juventude, pelo querido mano Zézo, em outro plano. Na década de 60, foi a Tijucas trabalhar na colheita da cana em fazenda, numa conhecida usina de açúcar. Após 30 dias, dormindo em condições sub-humanas, alimentando-se tal como animal e trabalhando de sol a sol sob a fuligem da fumaça, sem ver a cor do dinheiro, simplesmente falou a um amigo: para mim, chega. Estou indo embora. O amigo perguntando: e o salário? Que fiquem com o que restar, respondeu. Não se pretende disseminar ódio pelo ódio, mas se os humanos soubessem a força que têm, talvez raciocinassem melhor ao digitar o número do candidato em dia de eleições.

E o boicote?
Assim, por que não prescindir dos hábitos de Baco, optando por outro de origem transparente desenvolvido com trabalho humanizado, a exemplo da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB. E não venham com argumentos de linha ideológica ou partidária. Duas verdades em que homem algum gosta de se privar: bolso e liberdade. Sabendo da dificuldade em castigá-los pela liberdade, sobra a solução pelo bolso. Privando do consumo, quem sabe, depois do vexame e de amargar perda de mercado, repensem as atitudes. Então, poder-se-á festejar brindando as delícias de Baco.

Homenagem à mulher

Às guerreiras que nos criaram permitindo que os ensinamentos se perenizassem, às que diuturnamente, e de forma gentil, nos suportam tolerando as atitudes nem sempre caridosas e às que se sentem independentes, mesmo que por um fio as mantém conectadas impedindo-as do isolamento, que se sintam homenageadas, sob os olhares e proteção da mãe divina. Beijo no coração!

Refletindo
“Quem procura trabalho, não pode encontrar escravidão”. Uma ótima semana!

 

Por Pedro Hermínio Maria – Auditor Fiscal da Receita Estadual de SC

“Este é um artigo de opinião, cujo teor é de inteira responsabilidade do autor, e não expressa necessariamente a opinião desta entidade, não sendo, portanto, por ela endossado.”