Recuo da inflação e dos juros e aumento dos preços internacionais das commodities têm favorecido o desempenho dos principais setores das regiões do Brasil, mostra pesquisa do BC

Com exceção do Nordeste, as demais quatro regiões brasileiras apresentaram crescimento econômico no trimestre encerrado em agosto, ante o finalizado em maio, informou ontem o Boletim Regional do Banco Central (BC).

De forma geral, a expansão no País tem sido puxada pelo consumo das famílias e pelo setor externo, sendo o primeiro beneficiado pela inflação baixa e menor nível dos juros, e o segundo, pelo aumento dos preços internacionais das commodities, avaliam especialistas.

Enquanto as atividades do Centro-Oeste (+2,1%), Norte (+1,7%), Sudeste (+0,9) e Sul (+0,1) registraram alta, a do Nordeste recuou (-0,7), influenciada pela concentração dos resultados positivos da agricultura em março e abril.

O professor da Escola de Economia de São Paulo (EESP) da Fundação Getulio Vargas (FGV), Joelson Sampaio, comenta que a seca e a queda dos investimentos públicos federais enfraqueceram o resultado de indicadores econômicos nordestinos, mas que a região não está excluída do processo de retomada gradual da economia.

O relatório do BC destaca, por exemplo, a estimativa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de crescimento de 87,1% da produção de grãos do Nordeste neste ano, em relação a 2016, para 18 milhões de toneladas, com destaque para o feijão (138,5%), milho (104,8%) e soja (84,3%). A instituição pontua ainda que as vendas do comércio e a produção industrial mostram tendência de alta “consistente” no Nordeste.

No trimestre encerrado em agosto, o comércio ampliado da região cresceu 2,3% na margem (ante trimestre imediatamente anterior), após expandir 1,0% no período anterior. A produção industrial, por sua vez, avançou 0,3% até agosto, depois de expandir 0,8%.

Inflação baixa

Sampaio afirma que o processo de recuperação das economias regionais tem sido impulsionado pelo consumo e pelo setor externo. “A inflação baixa promoveu um ganho real nos rendimentos das famílias, o que acabou estimulando o consumo e beneficiando, consequentemente, o comércio, a produção industrial e os serviços”, elenca o professor.

“Outro aspecto da melhora da atividade é o aumento dos preços internacionais das commodities, o que tem puxado superávits nas balanças regionais”, acrescenta Sampaio.

Exemplo deste último cenário é a economia do Centro-Oeste. Segundo o BC, o avanço na atividade da região foi alavancado pela safra agrícola recorde, cujo crescimento em relação a 2016 chegou a 41,1%, a 105 milhões de tonelada. Este movimento gerou uma expansão de 8% nas exportações entre os meses de janeiro a setembro deste ano, ante igual período de 2016, para R$ 21 bilhões, e beneficiou uma alta de 7,6% no superávit comercial, a R$ 14,6 bilhões.

A economia do Sudeste, por exemplo, foi estimulada pela recuperação moderada da produção industrial, das vendas do comércio e da contribuição positiva do setor externo, informou o BC. A indústria, por exemplo, cresceu 2,6% no trimestre encerrado em agosto, ante elevação de 0,3% no terminado em maio. Houve aumento em 16 dos 22 setores pesquisados, com destaque para veículos, produtos alimentícios e máquinas e equipamentos, disse o BC.

As vendas do comércio, por sua vez, avançaram 3,4% contra o trimestre terminado em maio, quando já havia crescido 0,1%. Já o setor de serviços se recuperou, apresentando alta de 0,3% até agosto, após queda de 0,6% no trimestre anterior.

O BC destacou ainda que os resultados do balança comercial do Sudeste têm observado aumentos consecutivos. O superávit do saldo comercial alcançou US$ 22,2 bilhões nos primeiros nove meses deste ano, ante US$ 11,3 bilhões em igual período de 2016. O desempenho foi impulsionado, sobretudo, pela alta de 19,1% das exportações, para cerca de R$ 105 bilhões.

Expectativas

O professor de administração da ESPM, Adriano Gomes, reforça a importância da queda da inflação para a recuperação do consumo, bem como do processo de redução da taxa básica de juros (Selic), que já foi cortada pela metade até outubro deste ano (7,5%), ante igual mês de 2016 (14,25%).

Segundo ele, os efeitos mais fortes da diminuição dos juros serão sentidos mais fortemente em 2018, beneficiando o comércio, os serviços e a indústria das regiões do País.

O BC mostrou ainda que os serviços foram o destaque da economia do Sul, setor que expandiu 2,1% até agosto, após retração de 0,1% no trimestre anterior. A indústria, por sua vez, cresceu 0,9%, após recuo de 1,8% no trimestre anterior.

A atividade do Norte foi beneficiada pela produção industrial e pelos efeitos da safra agrícola sobre o comércio exterior. Já a produção da industrial na região cresceu, na margem, 5,2% no trimestre finalizado em agosto, após recuo de 0,5% no período anterior, enquanto as vendas do comércio cresceram 2,0%.

 

Via DCI