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No primeiro mês de vigência da legislação, o prejuízo chegou a R$ 35,2 milhões só nos cinco municípios mais prejudicados

As mudanças nas regras de distribuição dos recursos do ICMS da Educação em Minas Gerais geraram um prejuízo de R$ 85,5 milhões (valor bruto) em apenas um mês às 100 cidades do Estado mais afetadas.

Os dados são de levantamento do secretário municipal de Fazenda de Contagem, Dalmy Freitas, e mostram os impactos só em janeiro, primeiro mês desde que passaram a vigorar a regra aprovada pela Assembleia Legislativa e sancionada pelo governador Romeu Zema (Novo). Diante dos números, a Associação dos Municípios da Região Metropolitana de BH (Granbel) vai buscar o ressarcimento dos recursos.

O levantamento mostra ainda que apenas as cinco cidades mais impactadas pela legislação registraram prejuízo de aproximadamente R$ 35,2 milhões. Belo Horizonte (perdeu R$ 14.152.719), Contagem (R$ 7.041.584) e Betim (R$ 6.170.136) lideram a lista dos municípios mais prejudicados pela legislação. Em seguida, aparecem Uberlândia (perdeu R$ 4.845.915) e Uberaba (R$ 3.244.472). (Veja a lista das cem cidades abaixo)

Somado, o dinheiro perdido por essas prefeituras ultrapassa o montante gasto pelo governo de Minas para custear a merenda escolar nas escolas estaduais durante um mês (R$ 33 milhões). 

Queixa. A desproporcionalidade da distribuição do ICMS da Educação é alvo de questionamento de prefeitos que reivindicam a inclusão do número de alunos matriculados como um dos critérios para distribuição do imposto. 

Isso porque a lei, de autoria do deputado estadual Zé Guilherme (PP), aprovada na Assembleia Legislativa do Estado (ALMG) no ano passado, considera apenas o desempenho, rendimento, atendimento e gestão escolar como parâmetro para a distribuição dos recursos. 

Na avaliação dos gestores, a regra provoca distorções ao não considerar o número de estudantes para repartir o dinheiro.

Mudanças.  Após pressão das prefeituras, o governo do Estado aceitou se reunir nesta sexta-feira (23) com os prefeitos das cidades impactadas para discutir a pleiteada revisão da legislação. O convite para o encontro foi aceito pela secretária adjunta de Estado de Governo, Mila Corrêa da Costa, durante uma audiência pública para tratar do assunto na Assembleia Legislativa na terça-feira. 

A expectativa é que o governo mineiro reveja os critérios de distribuição do imposto para os municípios. Entre os participantes devem estar representantes das prefeituras de Belo Horizonte, Contagem e Betim, na região metropolitana, além de integrantes da Comissão de Educação, Ciência e Tecnologia da ALMG, responsáveis por identificar e elencar uma série de pontos a serem alterados na norma. Também devem ser convidados para a reunião o Tribunal de Contas (TCE-MG) e o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG). 

Em outra frente, nesta semana, as prefeituras de Contagem, Belo Horizonte e Betim, as três na região metropolitana, afirmaram que irão ingressar no Tribunal de Justiça de Minas (TJMG) com uma Ação Direta de Inconstitucionalidade contra os novos critérios de distribuição do imposto.

Em nota, o Governo de Minas afirmou que “se mantém atento a contribuições que possam aprimorar a gestão pública”, mas ponderou que é “pautado pelos limites da lei”. “No que diz respeito ao ICMS da Educação e outras normativas, o governo reitera o diálogo aberto com todos os atores políticos”, disse o Executivo estadual que confirmou presença na reunião de sexta-feira na Assembleia Legislativa. 

Granbel exige a reposição imediata de repasses perdidos

A Associação dos Municípios da Região Metropolitana de Belo Horizonte (Granbel) pretende solicitar ao governo do Estado, além da suspensão imediata da lei do novo ICMS da Educação, a reposição das perdas já ocasionadas.

Segundo a prefeita de Vespasiano e presidente da Granbel, Ilce Rocha (PSDB), se as perdas continuarem, os municípios correrão o risco de não conseguir cumprir os compromissos da folha de pagamento. Há prefeitos que já temem uma possível inadimplência dos pagamentos. Em Vespasiano, segundo Ilce, os prejuízos em janeiro chegam a R$ 1,3 milhão. 

“Em primeiro lugar, vamos tentar reverter a lei o mais rápido possível. Aí, sim, conseguindo retornar (os repasses), a gente vê como vai conduzir (os prejuízos). Se as perdas continuarem desse jeito, os municípios terão muita dificuldade com a folha de pagamento; em alguns casos, além de deixar de investir em algumas áreas, pode-se deixar de pagar a folha”, afirmou a prefeita, que acredita que o prejuízo vai gerar um efeito cascata aos municípios.

Recurso. Segundo ela, a expectativa é que a reunião prevista com o governo para amanhã seja produtiva. 

“Temos a expectativa de um acordo e que o número de alunos volte a ter prioridade (entre os critérios) nos repasses. Precisamos urgentemente que a legislação seja suspensa, quanto mais demora, mais os municípios perdem. Aí vamos ter que entrar com uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI)”, pontuou. 

Entenda a mudança

– O Estado precisava adequar a legislação estadual à federal, que exigia que a fatia dos recursos do ICMS destinada à educação fosse de no mínimo 10%. 

– Sem uma iniciativa do governo de Romeu Zema (Novo), o projeto veio do deputado estadual Zé Guilherme (PP). O governador sancionou a lei em setembro de 2023.

– Para distribuir os 10%, a ALMG definiu quatro critérios: desempenho, rendimento, atendimento e gestão escolar. Sem levar em conta o número de matrículas, cidades mais populosas recebem menos verba por aluno do que as menores. Essa é queixa dos prefeitos de grandes cidades.

VEJA AS 100 CIDADES QUE MAIS PERDEM RECURSOS COM O NOVO ICMS DA EDUCAÇÃO EM MG*

 Belo Horizonte  – R$ 14.152.719
 Contagem  – R$ 7.041.584
 Betim  – R$ 6.170.136
 Uberlândia  – R$ 4.845.915
 Uberaba  – R$ 3.244.472
 Montes Claros  – R$ 2.860.767
 Juiz de Fora  – R$ 2.637.055
 Santa Luzia  – R$ 2.180.728
 Ipatinga  – R$ 2.125.992
 Ribeirão das Neves  – R$ 2.011.368
 Ibirité  – R$ 1.784.349
 Poços de Caldas  – R$ 1.569.865
 Vespasiano  – R$ 1.464.787
 Governador Valadares  – R$ 1.259.463
 Sabará  – R$ 1.250.830
 Nova Serrana  – R$ 1.245.376
 Pouso Alegre  – R$ 1.168.895
 Sete Lagoas  – R$ 1.031.453
 Conselheiro Lafaiete  – R$ 976.265
 Divinópolis  – R$ 921.164
 Varginha  – R$ 836.040
 Esmeraldas  – R$ 725.816
 Itabira  – R$ 712.971
 Timóteo  – R$ 710.352
 Teófilo Otoni  – R$ 706.184
 Paracatu  – R$ 696.799
 Lagoa Santa  – R$ 684.891
 Muriaé  – R$ 651.456
 Extrema  – R$ 613.664
 Coronel Fabriciano  – R$ 606.283
 Mariana  – R$ 577.900
 Lavras  – R$ 538.428
 Araxá  – R$ 536.185
 Congonhas  – R$ 529.429
 Nova Lima  – R$ 515.696
 São Sebastião do Paraíso  – R$ 503.268
 Araguari  – R$ 494.879
 Passos  – R$ 484.361
 Ouro Preto  – R$ 456.751
 Patos de Minas  – R$ 453.244
 Itabirito  – R$ 453.229
 Patrocínio  – R$ 451.495
 Ituiutaba  – R$ 434.744
 Barbacena  – R$ 428.133
 Ubá  – R$ 424.192
 Formiga  – R$ 408.298
 Curvelo  – R$ 397.823
 Brumadinho  – R$ 390.226
 Pará de Minas  – R$ 387.445
 Unaí  – R$ 385.128
 Viçosa  – R$ 379.686
 Pedro Leopoldo  – R$ 366.486
 Juatuba  – R$ 359.627
 João Monlevade  – R$ 350.781
 Ponte Nova  – R$ 345.235
 Manhuaçu  – R$ 319.285
 Três Corações  – R$ 317.210
 São João Del Rei  – R$ 301.109
 Ouro Branco  – R$ 292.492
 Itaúna  – R$ 274.392
 Frutal  – R$ 273.918
 São Francisco  – R$ 258.823
 Igarapé  – R$ 243.995
 Leopoldina  – R$ 237.984
 São Romão  – R$ 237.188
 Nova Ponte  – R$ 235.246
 Itajubá  – R$ 233.521
 Alfenas  – R$ 224.366
 Almenara  – R$ 217.849
 Janaúba  – R$ 214.873
 Buritis  -R$ 198.259
 Três Marias  – R$ 180.006
 São Joaquim de Bicas  – R$ 178.362
 Pirapora  – R$ 172.774
 Santa Bárbara  – R$ 171.648
 Caratinga  – R$ 171.451
 Belo Oriente  – R$ 170.292
 Cataguases  – R$ 165.715
 Três Pontas  – R$ 163.696
 Visconde do Rio Branco  – R$ 156.711
 Jacutinga  – R$ 156.345
 Januária  – R$ 152.235
 Conceição das Alagoas  – R$ 137.701
 Bom Despacho  – R$ 133.590
 São Lourenço  – R$ 131.335
 Barão de Cocais  – R$ 126.046
 São José da Lapa  – R$ 117.976
 Iturama  – R$ 111.453
 Cláudio  – R$ 104.054
 Santos Dumont  – R$ 95.648
 Sarzedo  – R$ 89.703
 Mateus Leme  – R$ 84.996
 Matozinhos  – R$ 83.011
 Carandaí  – R$ 78.574
 Sacramento  – R$ 78.409
 Arcos  – R$ 77.125
 Monte Sião  – R$ 73.845
 São Gotardo  – R$ 72.887
 Guaxupé  – R$ 72.719
 Itamarandiba  – R$ 66.160

R$ 85,5 milhões foi o prejuízo bruto em apenas um mês às 100 cidades do Estado mais afetadas pelo novo ICMS da Educação. O montante considera a perda geral das prefeituras, contando os valores que elas deixaram de receber e o valor a ser descontado do Fundeb 

*VALORES BRUTOS, SEM DEDUÇÃO DE 20% DO FUNDEB

Via O Tempo