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Ao mesmo tempo em que luta para sobreviver frente à Covid-19, a avicultura enfrenta preços altíssimos de milho e soja devido à especulação impulsionada pelas exportações. Em março deste ano, o preço médio da saca de milho estava em R$ 35,00 e agora está em R$ 80. A soja estava em R$ 70 subiu para R$ 160. Ambos tiveram alta de 128% no período. O presidente da Associação Catarinense de Avicultura (Acav), José Antonio Ribas Junior, diz que o setor não está conseguindo suportar esse preço e defende adoção de política de segurança alimentar no Brasil, a exemplo de outros países.

Quem também chama a atenção para a gravidade da situação atual e defende a formação de estoques para segurança alimentar é o analista de pesquisas do Centro de Socioeconomia e Planejamento Agrícola de Santa Catarina (Epagri/Cepa), Haroldo Elias.A Argentina cobra 20% de taxa na exportação de grãos. Uma alternativa ao Brasil também pode ser uma taxa nas vendas ao exterior, embora ninguém defenda isso por enquanto.

 – A disponibilidade dos grãos até existe, mas pelo preço que está sendo cobrado no mercado está muito difícil de comprar. Muitos agricultores e empresas estão segurando estoque para subir ainda mais. Já se fala em saca de milho por R$ 90 e de soja por R$ 200 – afirma Ribas Junior, da Acav.

Segundo ele, o setor avícola teme pagar os valores atuais também porque acredita que não conseguirá repassar todos os custos para os preços. O medo é de uma quebradeira de empresas menores no ano que vem, a exemplo do que ocorreu em 2012, quando o preço do milho subiu devido à seca nos EUA.

Essa variação dos preços é completamente atípica, avalia o analista da Epagri, Haroldo Elias. A instituição acompanha há décadas os preços de milho e soja em Santa Catarina e eles nunca chegaram a esses patamares. O que está provocando isso são as elevadas compras chinesas.

– A China está comprando muita soja e farelo de soja. Comprou o que tinha e o que não tinha. As aquisições dela no Brasil, desses dois produtos, estão perto de 80 milhões de toneladas – afirma o analista.

Segundo ele, o país também está exportando muito milho e a Conab tem um estoque de apenas cerca de 9 milhões de toneladas. O Brasil consome 6 milhões por mês, o que daria para um mês e meio. Esse problema segue até janeiro, quando a Região Sul começa a colher a primeira safra de milho.

Como o problema de oferta de grãos se repete quase anualmente no Brasil e fica mais grave para Santa Catarina porque não conta com uma ferrovia para trazer os produtos do Centro-Oeste, a solução para o país é uma política de segurança alimentar com formação e gestão de estoques usando inteligência de dados e estratégias de mercado. Conforme Ribas Junior, é isso que fazem países europeus e o Japão. Os EUA também fazem seus estoques. Assim não ficam à mercê do mercado internacional.

– O poder está na nossa mão. Quem tem o grão somos nós. Quem tem a proteína somos nós. Temos que reverter esse jogo – afirma Ribas Junior, ao destacar que o país ganha oito vezes mais produzindo proteína do que exportando grãos.

Quanto à taxação da exportação cereais, trata-se de medida que não agrada os mercados, mas deveria ser estudada com profundidade sob a ótica do desenvolvimento do setor e do país. Há alguns anos, a Argentina adotou taxa de 20% e segue cobrando. O Brasil, que é o maior produtor de soja do mundo e um dos maiores de milho, poderia adotar uma taxa menor. Parte dos recursos poderia ir para a construção de silos de armazenagem e outra para pesquisas, especialmente na Embrapa que está com falta de recursos.

Ainda sobre esse processo de exportar, ficar sem produto e importar, há o problema de emissões de CO2 na atmosfera, com o transporte. Seria mais correto ecologicamente reter estoque no país.

Via NSCTotal – Coluna Estela Benetti