Reajuste de 1,5 ponto na taxa Selic pelo Copom encarece o crédito

Principal medida do Banco Central (BC) para conter a inflação, a elevação da taxa Selic pode ter efeito negativo no consumo dos catarinenses. No sétimo aumento consecutivo, anunciado pelo Comitê de Política Monetária (Copom) na quarta-feira (8), a taxa básica de juros da economia foi elevada de 7,75% ao ano para 9,25% ao ano. Esse é o maior patamar desde julho de 2017.

— O instrumento que o Banco Central está utilizando é uma dose forte de um remédio amargo. A taxa de juros elevada de forma tão rápida e intensa vai ter um impacto significativo na economia nos próximos meses — avalia Daniel Vasconcelos, professor de Macroeconomia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).

Como a taxa é referência para os juros em contratos de financiamento e empréstimos, além do cheque especial e cartão de crédito, o consumidor deve sentir o impacto da alta no bolso.

— O aumento vai ser repassado com o agravante de que no Brasil existe uma diferença muito grande entre a taxa Selic e os juros praticados em operações bancárias, como o financiamentos e cartão de crédito. Toda essa categoria de juros que afetam os consumidores vão rapidamente ser revistas para cima e a carga financeira dos contratos acaba aumentando — explica Vasconcelos.

Com o acesso ao crédito mais caro, a tendência é que a queda no consumo mantenha os preços estáveis. No caso de Santa Catarina, que tem uma economia diversificada, Vasconcelos acredita que o impacto será sentido de forma diferente entre os setores.

— Essa alta faz com que o câmbio aprecie (real se valoriza), afetando os exportadores. Para a indústria, juros mais altos também significam mais dificuldade de obter financiamentos para investimentos ou giro de capital. Para o comércio, a alta afeta as condições de crédito, então, os consumidores podem retrair decisões de comprar bens duráveis, por exemplo — pontua.

Inflação e queda no PIB

Em nota, o Copom destacou a inflação e a atividade econômica com “evolução moderadamente abaixo da esperada” como bases para a medida. Segundo o IBGE, o Produto Interno Bruto (PIB) caiu 0,1% no segundo trimestre de 2021.

— O país está em recessão técnica e com essa alta de juros o primeiro trimestre de 2022 provavelmente vai ser comprometido também — aponta Vasconcelos.

A atividade econômica de Santa Catarina avança no sentido inverso. O PIB estadual cresceu 9,8% em 12 meses até setembro, de acordo com projeção da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico Sustentável.

Quanto à inflação, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de outubro indicou nova subida nos preços. A inflação acumulada nos últimos 12 meses chegou aos dois dígitos com 10,67% — índice acima de 5,25%, que o atual teto da meta.

A decisão fecha a rodada de reuniões deste ano no Copom, que volta a se reunir em 1º e 2 de fevereiro. A tendência apontada pelo relatório Focus do BC é de que o cerco monetário siga até 2022, quando a taxa Selic pode chegar a 11,25% ao ano.

Poupança rende mais

O ajuste dos juros altera o cálculo do rendimento da caderneta de poupança. Desde 2012, a poupança passou a ter dois tipos de remuneração. Quando a taxa está abaixo ou igual a 8,5% ao ano, a rentabilidade da poupança é de 70% da Selic. Também é somada a Taxa Referencial (TR), que está zerada há cerca de três anos.

Até essa última reunião do Copom, estávamos nesse nível. O rendimento equivalente da caderneta ficaria em torno de 5,42% ao ano. Agora, com a taxa alta, o rendimento será de 0,50% ao mês ou cerca de 6,17% ao ano. Apesar do aumento, o retorno segue ainda bem abaixo da inflação corrente.

Via Diário Catarinense