Quem sintoniza as rádios locais nas cidades do interior de Santa Catarina ouve não apenas músicas e comerciais de lojas da região mas também anúncios de vagas de emprego. Não é à toa que isso acontece. A economiacatarinense cresce descolada da economia brasileira.

Para ter uma ideia, o Índice de Atividade Econômica Regional do estado subiu 4% no ano passado, enquanto a média brasileira ficou em 2,5%, segundo o Banco Central. E, como outdoors, carros de som e anúncios de jornal antecipam, o estado também lidera quando o assunto é emprego.

Na Região Sul, foi o que abriu mais vagas, com uma expansão de 4% no nível de emprego nos 12 meses anteriores, segundo relatório do Ministério do Trabalho de abril deste ano. No estado, as cidades que encabeçam a criação de postos de trabalho estão no interior: Joinville, Itajaí, São José, Blumenau e Chapecó. “Santa Catarina é o único estado em que não há concentração das admissões na capital”, diz Luís Testa, diretor de pesquisa e estratégia da Catho.

Isso se deve à geografia local, que tem campos no oeste (ideais para a agroindústria), portos no norte (importantes para a indústria naval e para o escoamento de produção) e indústria no nordeste (próxima aos portos).

A capital, Florianópolis, concentra empregos do setor de serviços. “O estado é compacto e logisticamente desenvolvido, o que faz com que as empresas sejam eficientes”, diz Mariciane Gemin, especialista em Região Sul da Asap Recruiters, empresa de recrutamento de São Paulo.

Por isso o interior é importante para o desenvolvimento regional, que tem surpreendido em um pe­ríodo de pouco dinamismo econômico. “Santa Catarina cresce descolada do PIB do país”, diz Patricia Tourinho, da Michael Page, empresa de recrutamento de São Paulo.

Embora Santa Catarina seja o estado com o maior Índice de Desenvolvimento Humano do Brasil, faltam profissionais. E isso não decorre da qualificação da mão de obra, considerada boa, mas da falta de gente suficiente para todas as vagas criadas.

De acordo com uma pesquisa da Michael Page, 63% das companhias da Região Sul adotam estratégias como elevar a remuneração e os benefícios para atrair gente de outras regiões — principalmente para as áreas comercial, financeira e de engenharia. Isso quer dizer que há boas oportunidades no estado. Ao longo desta reportagem você vai ver quais são as regiões e os setores que estão mais aquecidos e com mais vagas no interior de Santa Catarina.

Portos e indústria naval

As cidades de Navegantes e Itajaí tiveram grande crescimento econômico de 2009 a 2011: um aumento de mais de 50% no PIB, segundo o IBGE. Tanta prosperidade vem dos portos. Hoje, Itajaí tem PIB de 20 bilhões de reais, o segundo maior do estado, só atrás de Joinville, e é líder em movimentação de cargas.

O deslocamento de contêineres foi responsável por 74% de todas as exportações de Santa Catarina em 2013. A localização contribui para o sucesso, pois Itajaí está próxima de centros produtores, como Joinville e Blumenau. A cidade se beneficia do bom desempenho das exportações do estado, que cresceram 6% em 2013 — o índice brasileiro foi de recuo de 1,7%.

O porto está ficando pequeno diante de tanta demanda, e já se preveem a expansão do leito do rio Itajaí-Açu e a ampliação da estrutura portuária. “Isso cria vagas para logística e engenharia”, diz Mariciane Gemin, da Asap Recruiters. Navegantes não fica atrás. Ali, a soma de riquezas passou de 912 milhões de reais em 2009 para 1,39 bilhão em 2010 — o maior crescimento do período no estado.

A ascensão da atividade portuária embala outros setores, como o de construção civil. A Secretaria de Desenvolvimento Urbano da cidade diz que houve um aumento de 361% na emissão de alvarás para empreiteiras de 2000 a 2008. Quem passa pela cidade vê a quantidade de prédios em construção, sinônimo de boas oportunidades para engenheiros e arquitetos.

Indústria

A indústria brasileira está em desaceleração, mas em Santa Catarina ainda cresce acima da média nacional. De acordo com a Federação das Indústrias do Estado de Santa Catarina (Fiesc), a indústria catarinense cresceu 1,5% em 2013 e os destaques estão nos segmentos de metalurgia, madeira e vestuário. Até o fim de 2014, a Fiesc prevê um investimento de 2,48 milhões de reais na indústria — valor 27% mais alto do que o de 2013.

E, como há indústrias de vários setores, oportunidades não faltam. “Profissionais de engenharia, TI, logística e finanças são requisitados, e há demanda para cargos de gestão”, diz Patricia, da Michael Page. O estado tem conseguido mais um feito: atrair novas empresas.

A aquisição mais recente é a BMW, que escolheu Araquari, nas margens da BR-101 e a 24 quilômetros de Joinville, para sediar sua primeira fábrica no Brasil. Asse­diada por várias cidades, entre elas a paulista São José do Rio Preto, a montadora optou pelo município catarinense de 24 000 habitantes.

“Além dos incentivos governamentais, a cidade fica próxima a portos, e a mão de obra é qualificada”, diz Gleide Souza, diretora de relações governamentais da BMW. A montadora começou a operar no fim de setembro e tem capacidade para produzir 32 000 carros. Até agora, já contratou 500 profissionais e deve fechar o ano com até 1 000 pessoas.

Para capacitar os funcionários, a BMW criou um centro de treinamento em Joinville com uma réplica da linha de produção. A fábrica também deve gerar outras oportunidades. “Uma empresa dessas forma uma nova cadeia de fornecedores e cria empregos indiretos”, diz Sidnei Manuel Rodrigues, coordenador da Fiesc.

Agroindústria

Na região oeste de Santa Catarina, o destaque é a agroindústria. As cidades de Concórdia e Chapecó abrigam duas das maiores fabricantes de alimentos do país: a BRF, dona das marcas Sadia e Perdigão, e a Aurora. O estado é o maior produtor de frango do Brasil e lidera mundialmente as exportações do produto, segundo relatório da Agência das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação de 2013.

E isso deve crescer ainda mais porque a China habilitou, em março deste ano, a BRF e a Seara para vender carne de frango ao país — a Aurora já tinha essa aprovação. “Mesmo sendo um setor bastante tradicional, a agroindústria catarinense investe em pesquisa e inovação e por isso está sempre se desenvolvendo”, diz Sidnei, da Fiesc.

No ano passado, a Aurora faturou 5,7 bilhões de reais só em exportações e cresceu 47%. “Somos referência em cooperativa de produção de alimentos”, diz Nelson Paulo Rossi, gerente de gestão de pessoas da Aurora. Responsável por 25% do faturamento do setor alimentício no estado, a Aurora tem 1 000 vagas abertas para diversos níveis — desde o chão de fábrica até a gerência.

A demanda é tanta que a cooperativa faz anúncio das vagas nas rádios locais e usa carros de som para divulgar as oportunidades em Chapecó, em cidades vizinhas e até em outros estados, como Paraná e Rio Grande do Sul. Para preencher as vagas no nível operacional, a empresa precisou contratar 500 haitianos.

O crescimento da Aurora, que processa alimentos adquiridos de pequenos e médios agricultores locais, é representativo da força das cooperativas em Santa Catarina. Para ter uma ideia, as cooperativas foram responsáveis por 11% do PIB do estado no ano passado
e geram quase 50 000 empregos diretos.

“O cooperativismo é bem desenvolvido e cria vagas de alto nível, como diretores e gerentes”, diz Mariciane, da Asap. “Há uma busca das cooperativas para se tornar mais competitivas.”

 

Via EXAME