Diversificação é combustível para o desenvolvimento do Estado, que é o segundo mais competitivo do país, atrás apenas de São Paulo.

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Apostando no reaquecimento da economia brasileira a partir de 2020, Anselmo Freitas, empresário da indústria de plásticos descartáveis, se prepara. Com fábricas em Içara, no Sul de Santa Catarina, e em Pernambuco, a capacidade de produção chegará a 2,5 mil toneladas/mês quando a nova unidade for inaugurada, em setembro deste ano.

Otimista, Freitas também tem investido em modernização, de olho em oportunidades de negócios. Mesmo com a recuperação lenta da economia, empreendedores catarinenses, confiantes na retomada, se antecipam de olho nas oportunidades que estão por vir.

Freitas, que inaugura em breve uma unidade com 14 mil m², é um dos empresários que preferiu estar preparado para a volta do crescimento.

– Assim que a indústria, a construção civil começam a contratar, a gente já sente, pois aumenta o consumo dos produtos descartáveis. Também buscamos ampliar a gama e a nova fábrica terá embalagens para outros segmentos, foi uma necessidade de mercado – comenta o empresário.

Para o economista Henrique Reihert, da Federação das Indústrias do Estado de Santa Catarina (Fiesc), índices como a inflação, taxa de juros e câmbio estão estáveis, favorecendo os investimentos.

– Quando o consumo interno não está aquecido, conseguimos levar os produtos para o mundo todo e não sente tanto as consequências. Outro fator é a diversificação, há um quadro grande de setores. Quando um não vai bem, outro está melhor, o que torna a economia de Santa Catarina mais estável – explica Reihert.

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Base de dados para empreender

O Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) de Santa Catarina também sinaliza para a retomada da economia, e os números confirmam. A Junta Comercial de Santa Catarina (Jucesc) registrou recorde de novos negócios no primeiro trimestre, com 34,8 mil empresas constituídas. O crescimento é de quase 30% em relação à média do ano anterior, e o maior dos últimos três anos.

Para contribuir com quem deseja empreender, o Sebrae lança esse mês os Cadernos de Desenvolvimento. São 305 documentos com estudos aprofundados dos 295 municípios catarinenses, de nove regiões e ainda um panorama geral do Estado. São dados econômicos, sociais e de diversos segmentos, base importante, contendo informações para o investidor se planejar.

– Quem quer empreender utiliza os números com o olhar da oportunidade. Por exemplo, um município que a renda média caiu. Claro que é um problema do ponto de vista da renda, mas pode ser uma oportunidade para vender um produto para uma classe diferente. Sempre é possível enxergar uma oportunidade – comenta o diretor técnico do Sebrae-SC, Luciano Pinheiro.

Os estudos ficarão disponíveis no portal do Sebrae, são de acesso gratuito e trazem um perfil detalhado de cada local. Será possível cruzar dados, comparar cidades e regiões, entre outras ferramentas, que podem auxiliar também o poder público na tomada de decisões estratégicas de desenvolvimento.

“Com o cenário de saída de recessão, está na hora de ir ao mercado. Todo ano tem uma quantidade significativa de recém-formados, eles têm que ir para o mercado como empreendedores ou então como colaboradores de empresas. O nível de emprego não cresce tanto quanto a oportunidade de abrir negócios – sinaliza Pinheiro”.

O desemprego gerado pela recessão – que hoje atinge 13 milhões de brasileiros – também reflete no modelo de mercado, segundo o diretor técnico do Sebrae.

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Cinco destaques de Santa Catarina

A partir dos Cadernos de Desenvolvimento do Sebrae, o analista técnico Cláudio Ferreira destacou cinco pontos relevantes sobre o perfil de SC:

Relevância competitiva e social

É o segundo Estado mais competitivo. Contribui com 4% do PIB nacional, e o setor industrial tem participação nacional de 5,14%, seguido pelo agronegócio com 4,89%. Em termos de classe social, 65% dos domicílios urbanos estão classificadas nas classes A e B (com renda superior a R$ 5.363,19).

Crescimento populacional pela migração

A média de pessoas por família tem diminuído, são 2,7 em SC diante de 2,9 no Brasil, porém, o crescimento populacional faz uma curva inversa. A explicação, segundo o estudo, são os movimentos migratórios internos, que colocam Santa Catarina com aumento de 1,32% na população, acima da média nacional de 0,80%.

Litoralização”

As regiões Norte, Itajaí e arredores e Grande Florianópolis foram as que mais aumentaram a representação populacional no Estado. Um dos atrativos são os melhores salários: a região da capital tem a melhor média salarial com R$ 3.056,93, enquanto o extremo Oeste possui a pior, com R$ 1.882,25.

Mosaico Econômico

A força econômica do Estado se divide em vários setores estratégicos, e entre os que mais geram valor adicionado fiscal estão o de Energia, Comércio, Confecção, Carnes e Plástico. Em relação a vagas de trabalho, os setores de Transporte, Construção, Vestuário e o Serviço Público são os principais alocadores de empregos.

Oportunidades

De 2012 a 2016 houve queda de 5% na geração de empregos com carteira assinada. No mesmo período, o número de empresas aumentou 7,23% e o Valor Adicionado Fiscal (VAF) aumentou 40%. Outro dado relevante é que no período de 2013 a 2017, o número de empresas exportadoras cresceu 39,42%.

Movimentação portuária é diferencial para potencial econômico do Estado
Movimentação portuária é diferencial para potencial econômico do Estado

(Foto: Diorgenes Pandini, Diário Catarinense)

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Novos mercados para Santa Catarina

O crescimento nas exportações é um dos caminhos a ser seguido nos próximos anos a partir da abertura de novos mercados internacionais. De olho na internacionalização dos produtos catarinenses, a Fiesc está otimista em relação ao acordo assinado entre Mercosul e União Europeia. O Estado já tem se destacado em exportação, no ano passado foi o oitavo que mais mandou produtos para fora do país, movimentando

US$ 9,2 bilhões. Assim que estabelecida a relação entre esses países, a expectativa é que o número atual, de 2,5 mil empresas exportadoras, aumente.

Essa curva é crescente desde 2010, e a Federação quer que os empreendedores catarinenses possam explorar de maneira competitiva o potencial desses 780 milhões de consumidores, que correspondem a 25% do PIB mundial. A presidente da Câmara de Comércio Exterior da Fiesc, Maria Teresa Bustamante, diz que essa é uma bandeira prioritária da entidade.

“O objetivo é colaborar com empresário da pequena e média por meio de capacitações e formas dele aumentar a competitividade. Queremos que ele esteja preparado não somete para o mercado estrangeiro, mas também para a concorrência interna, aqui na casa dele” – comenta.

O acordo entre Mercosul e UE ainda precisa passar pela análise dos legisladores de cada país, o que pode levar de três a quatro anos até que o programa seja implantado. Alguns produtos agrícolas de interesse do Brasil terão tarifas eliminadas, e os exportadores brasileiros terão acesso ampliado na venda de carnes, por exemplo.

Para Maria Tereza, o acordo trata de questão que vão além da economia.

– Vai se abrir um mercado com 28 países altamente compradores, com grau de importação alto. Se a indústria catarinense, com a diversificação que tem, qualidade, desenvolvimento e sabedoria que nosso empresário tem, dando o passo de aumentar a competitividade, vai angariar um crescimento extraordinário – projeta.

Indústria de plásticos aguarda expectativa de recuperação da economia
Indústria de plásticos aguarda expectativa de recuperação da economia

(Foto: Guilherme Hahn, Especial)

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O potencial de cada região catarinense

O Cadernos de Desenvolvimento do Sebrae também aponta o potencial econômico de cada região do Estado. No Sul, o ramo plástico é a segunda economia dos doze municípios da região Carbonífera, que inclui Criciúma e outras onze cidades, atrás apenas do setor cerâmico. Mas há o que aprimorar.

Para a Fiesc, um dos desafios da indústria catarinense ainda é a logística, que precisa de mais investimentos para que os produtos no Sul e em outras regiões de Santa Catarina se tornem cada vez mais competitivos.

– A produção é diversificada, Sul, Norte, Oeste, região Serrana, todas têm força e precisam de um escoamento da produção. Seja agro, móveis de madeira, celulose, papel, é preciso reduzir o custo do deslocamento na região para ser competitivo. Inovação e modernização também são fatores importantes, e por isso o empresário tem que buscar cada vez mais informação – contextualiza Reihert.

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No Norte de SC, a força está no transporte

Do ponto de vista da densidade econômica, o transporte rodoviário de carga aparece como a atividade com o maior número de empreendimentos no Norte do Estado. Em 2016 eram 2,1 mil empresas, correspondendo a 6,8% dos negócios da região e 15,5 mil empregos gerados.

A Federação das Empresas de Transporte de Carga do Estado de Santa Catarina (Fetrancesc), que conta com 13 sindicados filiados e 2,2 mil associados, se prepara para a retomada da economia. O presidente Ari Rabaiolli lembra que o setor serve como termômetro, já que 61% do que é transportado no país é por rodovias. Quando os negócios crescem, a demanda por transporte vai junto.

Somos um país continental, ainda há muito potencial de crescimento no setor. Porém, esbarramos em três questões importantes, que precisam de atenção. A infraestrutura, a segurança e alguns pontos da legislação trabalhista, difíceis de cumprir porque não há pontos de parada para os motoristas, por exemplo – analisa.

A tabela do frete, acordo firmado em função da greve dos caminhoneiros ocorrida no ano passado, passará por mudanças. Um novo texto foi publicado, porém os caminhoneiros autônomos exigiram melhorias. Enquanto isso, o setor se mantém entre os maiores geradores de postos de trabalho e de renda para os catarinenses.

Nas vagas abertas no primeiro semestre desse ano em SC, o setor de serviços foi o segundo que mais contratou. Foram 15,4 mil trabalhadores de janeiro a junho. Mesmo em comparação com 2018, quando a greve dos caminhoneiros ocorreu, o resultado de junho 2019 ainda é o melhor desde 2013.

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Suinocultura se destaca na região Oeste do Estado

No Oeste, o potencial econômico está na agropecuária. Assim, mesmo com o momento de dificuldade vivido pela suinocultura quando do embargo russo, o aumento de custos de produção e redução do consumo interno, no início de 2018, novos investimentos surgiram. O suinocultor Nilo Bourscheidt e mais duas famílias sócias aplicaram R$ 4 milhões para ampliar o plantel de reprodutoras suínas, de 600 para 1,7 mil.

Na época a produção era de 1,2 mil leitões por mês. Agora produção está em 4 mil/mês, justamente num período que a demanda por suínos cresceu muito. No primeiro semestre de 2019 SC exportou US$ 392 milhões do animal, num crescimento de 42% em relação aos US$ 276 milhões do primeiro semestre de 2018.

“Na época que decidimos fazer o investimento, muitos produtores fecharam na crise. Mas agora estamos colhendo os frutos” – disse Bourscheidt.

A propriedade fica na linha Santa Fé Baixa, em Itapiranga e ele tem contrato parceria com a Seara Alimentos, que está ampliando o abate de suínos do município. O faturamento chega próximo de R$ 90 mil por mês.

Boruscheidt disse que o planejamento é investir mais R$ 4 milhões. A estrutura atual já foi construída visando a ampliação.

Além da produção de suínos, o produtor está de olho no aproveitamento dos dejetos. É que a propriedade é uma das 12 que faz parte de um projeto de uma minicentral de energia da Eletrosul, para produção de eletricidade a partir do biogás.

A expectativa do produtor é produzir energia para zerar a conta de R$ 5 mil por mês em eletricidade, além de comercializar o excedente.

Outras empresas do setor também estão ampliando a produção. A Aurora Alimentos, por exemplo, investiu R$ 220 milhões na sua unidade do bairro Efapi, onde o abate vai passar de cinco mil suínos por dia para dez mil/dia, entre outubro deste ano e maio do ano que vem. Para isso serão contratados dois mil funcionários.

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Portos de SC evoluem junto com a produção local

Terminais se preparam para absorver demanda produtiva
Terminais se preparam para absorver demanda produtiva

(Foto: Diorgenes Pandini, Diário Catarinense)

A expectativa de retomada do crescimento econômico acende o sinal de alerta para o impacto logístico em Santa Catarina. Com cinco terminais, o Estado concentra 17,4% da movimentação portuária brasileira – um volume semelhante ao que opera a vizinha Argentina. Os portos locais têm um histórico de recordes de eficiência na operação e espaço para absorver o aumento na demanda de cargas. Mas Santa Catarina enfrenta um problema crônico de acessos, que aumenta o custo de transporte e reduz competitividade.

“Temos portos eficientes e condições de atender à demanda do mercado. Só que os contêineres têm que chegar ao porto, e aí começa o problema” – diz Egídio Martorano, gerente de infraestrutura e sustentabilidade da Fiesc.

O Complexo Portuário do Itajaí-Açú, segundo maior movimentador de contêineres do país, que responde por mais da metade do comércio exterior em Santa Catarina, precisou abrir espaço para manobrar os grandes navios que já navegam a costa brasileira. As obras da nova bacia de evolução, que somarão mais de R$ 300 milhões, foram divididas em duas etapas. A primeira parte, que permitirá a entrada de embarcações com até 336 metros de comprimento, deve ser entregue até setembro – o porto assumiu os trabalhos depois o Estado deu por concluído o contrato, sem atingir a profundidade necessária.

A parte mais cara do projeto, no entanto, é a segunda fase, que dará lugar para navios de até 400 metros de comprimento.

O ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas, afirmou em junho, ao visitar o porto, que o governo federal terá condições de tocar a empreitada com sobras de verbas de dragagem. Mas, por enquanto, não há licitação em vista.

A Baía da Babitonga, que dá acesso aos portos de Itapoá e São Francisco do Sul, também demanda investimentos federais estimados em R$ 200 milhões. Ali, é necessária a retificação de uma curva no canal e o aprofundamento, para receber navios maiores e mais carregados. Assim como a segunda fase da bacia de evolução de Itajaí, não há previsão de liberação dos recursos.

A questão dos acessos aquaviários só não pesou mais, até agora, porque as empresas de navegação seguraram o envio de grandes navios para as rotas da América do Sul enquanto a economia engatinha. Mas os problemas relacionados a outros acessos, os terrestres, se mostram mais urgentes.

A falta de duplicação de rodovias, e de ampliação de oferta de modais, como o ferroviário, aumenta o custo das operações comerciais em Santa Catarina. Segundo dados da Fiesc, a estimativa é que o custo logístico de Santa Catarina corresponda a 14 centavos para cada 1 real na cadeia produtiva. A média brasileira é de 11,73 centavos.

“O impacto das rodovias para nossa competitividade imenso. Perdemos muito, o custo do frete é alto pela condição da rodovia, pelo alto risco de acidentes. O seguro é mais caro, a manutenção do veículo é mais cara. E tem todo o problema social que representam os acidentes” – diz Martorano.

Santa Catarina tem dois projetos de ferrovia, a Litorânea, ou norte-sul, e a Ferrovia do Frango, ou leste-oeste. São dois processos que correm separados, um sob o controle do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), e outro sob responsabilidade da Valec, empresa pública que atua em projetos de ferrovias do governo federal.

O Brasil ocupa atualmente a 54ª posição no ranking mundial de performance em logística – resultado de um investimento de apenas 0,5% do PIB no setor, entre 1993 e 2015, segundo dados do BNDES. O percentual corresponde a praticamente um décimo do que investiu a China no mesmo período.

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Problemas em série nas rodovias de SC

Filas e congestionamentos fazem parte da rotina dos principais eixos logísticos rodoviário do Estado, e uma eventual aceleração do crescimento trará impacto que as rodovias de SC não têm condições de absorver.

A solução para as rodovias é urgente porque o Brasil não investiu, ao longo das últimas décadas, em outros modais de transporte. Hoje, 62% matriz logística brasileira é rodoviária. Entre os 10 maiores portos do Brasil, os dois catarinenses que aparecem no ranking – Itajaí/Navegantes, em 2o lugar, e Itapoá, em 5º, são os únicos a não terem acesso por ferrovia ou hidrovia. Uma desvantagem logística em relação aos demais portos brasileiros.

Santa Catarina tem dois projetos de ferrovia, a Litorânea, ou norte-sul, e a Ferrovia do Frango, ou leste-oeste. São dois processos que correm separados, um sob o controle do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), e outro sob responsabilidade da Valec, empresa pública que atua em projetos de ferrovias do governo federal.

A Fiesc defende que os projetos passem a ser integrados, geridos em conjunto, e ligados à malha ferroviária nacional. É uma maneira de facilitar o escoamento de cargas para o Sudeste, maior mercado consumidor interno do produto catarinense.

O desenvolvimento da cabotagem – navegação interna – e a habilitação de uma hidrovia entre Blumenau e Itajaí, para desafogar a BR-470, também fazem parte do rol de soluções. A hidrovia depende de adaptações na ponte da BR-101 sobre o Rio Itajaí-Açu para permitir a passagem de barcaças, algo que está previsto na lista de projetos da Arteris Litoral Sul que dependem de autorização do governo.

Via NSCTotal – Economia