Economistas estão divididos sobre os impactos da tributação sobre o crescimento da economia, mas argumentam que as pessoas terão mais dificuldades para cumprir o orçamento doméstico

O impacto do consumo das famílias sobre a atividade econômica em 2017 ficou mais incerto após a alta dos impostos sobre combustíveis. Mas a baixa da taxa básica de juros (Selic) pode ativar o crédito para compras e girar o motor da economia no próximo ano.

Na visão do mercado, segundo a Pesquisa Focus do Banco Central, a taxa deve cair para 8% no final desse exercício, e manter neste patamar em 2018. O Comitê de Política Monetária (Copom) decide hoje sobre uma nova redução dos juros, provavelmente em 1 ponto, de 10,25% ao ano para 9,25% ao ano.

Esse estímulo para o crédito tende a fazer efeito a partir deste segundo semestre, com resultados mais claros em 2018. “A queda da Selic faz o crédito para consumo reagir, temos alguns sinais de que isso está acontecendo”, afirma a coordenadora da Pesquisa Sondagem ao Consumidor do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da Fundação Getulio Vargas (FGV), Viviane Seda Bittencourt.

Para o economista do Mackenzie, Pedro Raffy, a baixa dos juros irá ativar a economia pelo canal do crédito, num momento de inflação controlada e de estabilização do desemprego. “O emprego começa a se recuperar. O consumo das famílias vai em uma expectativa positiva para 2018, ainda que aponte um discreto aumento de 0,2% a 0,5% neste ano”, calcula.

Por outro lado, depois de dois anos de queda no consumo das famílias (-4,2% em 2016 e -3,5% em 2015), a alta dos impostos sobre combustíveis poderá comprometer ainda mais o orçamento doméstico e afetar a fraca retomada da atividade no momento atual.

Os economistas consultados pelo DCI afirmam que a elevação dos tributos (PIS e Cofins) sobre a gasolina, o etanol e o diesel – anunciado na última semana e suspenso temporariamente ontem por uma decisão judicial da 20ª. Vara Federal de Brasília – pode alterar a dinâmica de consumo das famílias brasileiras, mas estão divididos sobre os impactos no Produto Interno Bruto (PIB).

“Nossa projeção de aumento de consumo das famílias é zero, enquanto o PIB pode crescer até 0,7%”, afirma a economista-chefe da Rosenberg Associados, Thais Zara.

Para o economista do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese), Ilmar Ferreira Silva, com esse aumento da tributação, a tendência de consumo dos brasileiros é de baixa. “As famílias vão perder o restante da renda”, diz.

Silva também lembrou que como a população brasileira cresce 0,9% ao ano, mesmo que o consumo das famílias aumente um pouco neste ano, o consumo per capita (por pessoa) ficará em baixa. “Na média, as pessoas estão consumindo menos”, argumenta.

Na avaliação de Viviane Sedda, da FGV, a demanda familiar contribuirá pouco para o PIB em 2017. “Com a alta na tributação, possam deixar de comprar alguns produtos. Talvez alguma substituição da gasolina pelo etanol por causa da diferença de tributação”, relaciona a coordenadora.

Mas Raffy, do Mackenzie, diz que é difícil substituir esse gasto. “Esse aumento dos impostos vai pesar mais no orçamento familiar. Do ponto de vista da inflação, a alteração foi pequena no ano, pois houve uma queda dos preços dos combustíveis antes”, disse o economista, descartando qualquer interferência dessa mudança na decisão da reunião do Copom sobre a taxa de juros hoje.

Intenção em baixa

O Índice de Confiança do Consumidor (ICC) da FGV divulgado ontem caiu 0,3 ponto em julho, para 82 pontos, consolidando a tendência de queda sinalizada com o recuo de 1,9 ponto no mês anterior. “Acima de 100 pontos é mais favorável”, esclareceu Viviane.

“A calibragem da confiança dos consumidores tem sido realizada principalmente nos indicadores de expectativas. Enquanto a incerteza estiver elevada, o brasileiro deverá permanecer cauteloso na hora de assumir novos gastos de consumo”, diz a coordenadora.

De acordo com o comunicado do Ibre, em julho, houve piora tanto das avaliações sobre a situação presente quanto das expectativas em relação aos próximos meses. O Índice de Situação Atual (ISA) variou -0,4 ponto, ao passar de 70,1 para 69,7 pontos, na quarta queda consecutiva. Já o Índice de Expectativas (IE) recuou -0,3 ponto, para 91,4 pontos, sinalizando aumento do pessimismo em relação à recuperação econômica no País.

O indicador que mede o grau de satisfação com a situação econômica atual caiu 0,4 ponto, para 77,1 pontos, o menor desde abril (76,9 pontos).

O indicador que mede a perspectiva em relação à economia recuou 2,2 pontos em julho em relação ao mês anterior, para 106,9 pontos, o menor nível desde dezembro de 2016 (102,2 pontos). A instabilidade política parece contribuir negativamente para este resultado, informa a FGV.

 

Via DCI