O Fundo Monetário Internacional (FMI) advertiu que o Brasil continua em recessão, mas a atividade econômica parece estar saindo do fundo do poço. No relatório Panorama Econômico Mundial (WEO, na sigla em inglês), divulgado na manhã dessa terça­feira, a instituição estimou que o país sofrerá queda de 3,3% do Produto Interno Bruto (PIB) neste ano e deverá crescer apenas 0,5%, em 2017. Os percentuais são os mesmos verificados na última edição do documento, em julho passado, e no relatório específico sobre o país que foi divulgado na última quinta-­feira.

No texto, o FMI estimou que o Brasil pode sair da recessão, mas advertiu que é necessário reduzir a incerteza política no país. “Na América Latina, a economia brasileira permanece em recessão, mas a atividade parece estar perto de sair do fundo do fundo do poço”, afirmou o relatório. De acordo com o Fundo, os efeitos dos choques passados, como a queda nos preços das commodities, os ajustes nos preços administrados em 2015 e a incerteza política, estão passando gradualmente. Porém, para obter o percentual de 0,5% de crescimento estimado para 2017, o Brasil deverá demonstrar que não padece mais de incertezas no campo político. “Essa perspectiva [de baixa de 3,3% do PIB em 2016 e de 0,5% de avanço em 2017] é 0,5 ponto mais forte para os dois anos, se comparada com o relatório de abril”, reiterou o FMI.

A instituição verificou que a queda da economia brasileira está se desacelerando. “No Brasil, a economia continua a se contrair, embora a um ritmo mais moderado”, informou o relatório. “A inflação está acima da meta de tolerância do Banco Central e a credibilidade das políticas foi severamente prejudicada por eventos que antecederam a transição de regime”, continuou o organismo.

O Fundo mencionou que há “necessidade abrangente de aumentar a confiança e trazer investimentos por meio do fortalecimento de estruturas de políticas”. “A adoção da proposta de regras para os gastos e o lançamento de uma coerente estrutura de consolidação fiscal de médio prazo enviaria um forte sinal de compromissos com essas políticas.” A simplificação das regras tributárias, a redução de barreiras ao comércio e a implementação de medidas para lidar com as deficiências de infraestrutura para reduzir os custos de negócios também foram lembradas como medidas importantes para melhorar a economia do país.

O país também é mencionado na parte do relatório que trata da queda nos preços das commodities. De maneira geral, o FMI verificou um aumento nos preços das commodities agrícolas em 7%. Essa recuperação ocorreu em vários produtos, com exceção de milho e trigo. No caso do Brasil, o Fundo cita que a agricultura está se recuperando de uma seca prolongada. Ainda no comércio, o FMI concluiu que o Brasil “experimentou um declínio significativo na participação dos bens manufaturados duráveis em seus gastos, o que deprimiu o crescimento das importações”.

O Fundo verificou que as moedas de exportadores de commodities, como o Brasil, a Rússia e a África do Sul, passaram por apreciações, refletindo a recuperação dos preços e um “fortalecimento geral no sentimento dos mercados financeiros”.

Os emergentes também foram favorecidos pelas taxas de juros baixas nos países desenvolvidos, em particular pelo Federal Reserve, o banco central americano, que fez apenas um aumento de juros, em dezembro de 2015, e não efetivou uma nova elevação neste ano, até agora.

“Os fluxos de capitais para as economias emergentes se recuperaram após a queda acentuada na segunda metade de 2015 e no início fraco de 2016”, afirmou o FMI, ressaltando que esse movimento ocorreu diante dos mesmos fatores que mantiveram as valorizações nas taxas de câmbio desses países.

Quanto à política monetária, o FMI destacou que os pressupostos “estão consistentes com a convergência gradual da inflação para o centro da meta”.

A projeção do Fundo para a inflação é de 7,2% ao fim de 2016. O percentual é semelhante ao previsto pelos analistas ouvidos pelo Banco Central (BC), que indicou uma alta de 7,23% para o IPCA na última versão do boletim Focus, divulgado na segunda­feira. Para o fim de 2017, o FMI prevê inflação ao consumidor em 5%.

O Fundo estimou uma queda no déficit em conta corrente neste ano, de 0,8%, no próximo calendário, de 1,3%.

O desemprego deve ficar em 11,2% em 2016 e em 11,5% em 2017, de acordo com as projeções do Fundo.

Apesar das perspectivas de melhorias na atividade econômica, o FMI colocou o Brasil num grupo de países que puxam o desempenho econômico mundial para baixo. “O aumento nas projeções de crescimento global de 2017 para 3,4% depende crucialmente da elevação do crescimento em economias emergentes e de países em desenvolvimento, onde o declínio das pressões de queda na atividade em países em recessão em 2016, como o Brasil, a Nigéria e a Rússia, é esperado para mais do que compensar a desaceleração do crescimento na China”, informou o WEO. Ao todo, a projeção agregada das economias do Brasil, da Nigéria, da Rússia, da África do Sul e da Venezuela está estimada em menos 2,3%, em 2016.

O FMI e o Banco Mundial realizam nesta semana a sua reunião anual, em Washington.

 

Via Valor Econômico