O impacto das altas taxas de juros brasileiras sobre a inflação é tema de importante debate nas páginas do Valor. A discussão começou com o artigo Juros e conservadorismo intelectual, publicado em 13/01, no qual André Lara Resende discorre sobre uma teoria econômica polêmica segundo a qual o juro alto não só agrava o desequilíbrio fiscal, como no longo prazo mantém a inflação elevada.

Marcos Lisboa e Samuel Pessôa responderam em 20/01, no artigo Nada de novo no debate monetário no Brasil. Para eles, juros maiores podem resultar tanto em maior quanto em menor inflação, mas, no caso brasileiro, dizem que não parece haver evidência de que cortes abruptos de juros reduzam a inflação.

Diante da polêmica entre os economistas, André Lara Resende voltou ao tema no artigo Teoria, prática e bom senso, de 27/01. O articulista sublinha o interesse despertado por novas hipóteses que desafiam os modelos estabelecidos. O economista Eduardo Loyo deu sua contribuição para a conversa, no artigo Neofisherianismo: vai entender, publicado em 3/02.

Em 10/02, José Júlio Senna entrou no debate com o artigo Taxa de juros e inflação. Para ele, é inadequado aplicar a teoria ao Brasil, onde os números mostram que a inflação é sensível à taxa de juros.

Outros colunistas do Valor opinaram sobre o tema. Em Aritmética monetarista desagradável, de 2/02, Yoshiaki Nakano aponta que a reforma fiscal e a reforma monetária são pré­ requisitos para se obter uma queda na taxa de juros no país. Os economistas Luiz Gonzaga Belluzzo e Gabriel Galípolo abordam o assunto no artigo Metas de inflação e os ardis da razão, publicado em 7/02. Em sua intervenção, O por que dos juros altos, de 10/02, o ex­presidente do BNDES Luciano Coutinho aponta que o sistema financeiro teria uma “dependência viciosa” de juros altos, que também precisaria ser vencida para que as taxas caíssem efetivamente. Em 9/02, no artigo Monetarismo revisitado, 100 anos depois, Maria Clara R. M. do Prado destaca o interesse que a comunidade demonstrou pela discussão e aponta motivos pelos quais a inflação não disparou em países desenvolvidos que vêm mantendo o juro básico perto de zero. Claudia Safatle conta, em Governo cogita reduzir meta de inflação para 2019, de 10/02, que os economistas do governo não creem na tese de ‘juros altos, inflação alta’.

O debate ultrapassou as páginas do Valor. Em coluna publicada no jornal Folha de S.Paulo em 8/02, chamada “André Lara Resende é patrulhado por falar de tema interditado”, o jornalista Elio Gaspari diz que os dois artigos deste economista são provocativos por ousarem tocar em um tema que ele, Gaspari, qualifica como interditado no país. A coluna cita entrevista dada pelo ex ­presidente do Banco Central Armínio Fraga à Folha como exemplo da resistência que o tema suscitado pelos artigos encontraria entre os especialistas nacionais.

Fraga, então, publicou em 10/2 no jornal O Globo seu próprio artigo sobre o tema, ‘O debate sobre os juros no Brasil’. Nele, afirma que, no caso brasileiro, as incertezas e as fragilidades das contas públicas não permitem abandonar “um certo conservadorismo na prática da política monetária”. Também repudia a ideia de que esse seja um tema vedado ao debate e objeto de “patrulha”. E a polêmica continua, na imprensa, nas redes sociais e nos blogs especializados.

Via Valor Econômico