Greve dos caminhoneiros fez desconfiança disparar, mas deterioração fiscal e falta de clareza das agendas dos pré-candidatos são o que mantêm indicador em alta, avaliam especialistas

 

A incerteza com os rumos da economia fechou o semestre em níveis elevados, refletindo indefinições nas agendas política-econômicas dos pré-candidatos, deterioração fiscal e ambiente externo turbulento.

O Indicador de Incerteza da Economia (IIE-Br) do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV) cresce desde março, porém disparou em junho em relação a maio, ao avançar 10,1%, para 125,1 pontos, maior nível desde janeiro de 2017 (125,4 pontos). Nos três meses imediatamente anteriores, o IIE-Br aumentou, na média, 4,16% a cada mês.

Com o resultado de junho, o indicador manteve-se na região de incerteza elevada (acima de 110 pontos) pelo quarto mês consecutivo.

O aumento da desconfiança fez o Banco Central (BC) diminuir significativamente a sua expectativa para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de 2018, de 2,6% para 1,6%, de acordo com o Relatório Trimestral de Inflação (RTI), divulgado ontem.

“A disparada da incerteza em junho foi desencadeada pela greve dos caminhoneiros, que aconteceu em maio, mas que gerou desdobramentos em junho, como a queda do ex-presidente da Petrobrás, [Pedro Parente], a elevação do dólar em relação ao real e reflexos na agenda fiscal [em decorrência dos subsídios aos diesel]”, diz o economista do Ibre-FGV, Pedro Costa Ferreira.

Para além dos efeitos da greve, Ferreira explica que a deterioração fiscal e a falta de clareza das agendas dos pré-candidatos são os fatores que têm mantido o nível de desconfiança alto. “A incerteza política está relacionada com a incerteza na economia. A situação fiscal não está resolvida. Então, a pergunta que os empresários se fazem é: será que o próximo presidente vai fazer uma reforma da previdência? Será que ele terá capital político para implementar mudanças fiscais? Será que ele vai respeitar o teto de gasto”, reflete o economista do Ibre.

“Se a situação fiscal estivesse resolvida, é provável que a política não gerasse tanta incerteza econômica”, diz. Para que as empresas tenham um horizonte de investimento de longo prazo, é importante que haja uma definição da política econômica a ser adotada nos próximos anos.

Além da questão fiscal, Ferreira menciona que os empresários ainda têm dúvidas sobre como será conduzida as políticas cambial e monetária, por exemplo. Na avaliação dele, o IEE-Br deve continuar volátil até as eleições, em outubro.

Baixo crescimento

O professor de economia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), Antônio Correa de Lacerda, ressalta que, antes dos acontecimentos de maio, a política econômica atual já não estava favorável para o crescimento. “O governo não atacou o spread bancário. Embora a taxa de juros básica tenha caído pela metade nos últimos anos, os juros para o consumidor final continuaram lá no alto. Este é um freio na atividade econômica”, considera.

“Outro freio é a forte redução dos investimentos públicos, travados pela implementação do teto para os gastos públicos”, complementa. “O baixo crescimento já estava dado”, reforça Lacerda.

Ele comenta ainda que demais fatores que estão agravando o nível de incerteza são a guerra comercial entre os Estados Unidos (EUA) e outras economias do mundo, e a elevação da taxa básica de juros norte-americana.

O RTI mostrou também que o BC cortou projeção de crescimento para os principais componentes do PIB. Pelo lado da oferta, a expectativa para a indústria recuou de 3,1% para 1,6% e, para o setor de serviços, de 2,4% para 1,3%. No sentido inverso, a perspectiva para a agropecuário saiu de uma contração de 0,3% para expansão de 1,9%.

No lado da demanda, o consumo das famílias passou de 3,0% para 2,1%, enquanto o investimento foi de 4,1% para 4%. A projeção para inflação de 2018 subiu de 3,8% para 4,2%, no cenário de mercado, entre o RTI de março e de junho, informou o BC.

 

Via DCI