Na mesma semana em que o Brasil registrou a primeira deflação mensal em 11 anos, a reclamação “de que o dinheiro não está rendendo até o fim do mês” se intensificou entre a população. A análise é do IP Brasil, indicador que mede quais os assuntos mais debatidos nas redes sociais e na imprensa e qual a opinião do público a respeito deles. Com base em aproximadamente 1,2 milhão de posts e 250 textos de grandes veículos de comunicação, ele é divulgado toda semana com exclusividade pelo Valor PRO.
Entre a semana retrasada e a passada, o IP Brasil caiu de 47% para 34%. Quanto mais próximo de 0, pior é considerada a situação do país pelo público. “A principal reclamação dos internautas diz respeito ao fato de que o salário não é suficiente para o pagamento das despesas mensais”, diz relatório da .Map, empresa responsável pelo indicador. “Esse fator, aliado à ausência de ofertas de emprego nas redes sociais”, fez o IP Economia cair de 60% para 21% entre uma semana e outra.
Em junho, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), indicador oficial da inflação, caiu 0,23% em relação a maio, conforme divulgado nesta sexta-feira. Foi a primeira deflação para qualquer mês desde junho de 2006. No acumulado de 12 meses, o índice ficou em 3%, depois de terminar o ano passado em 6,29%.
Parte considerável dessa distância entre os dados oficiais e a sensação da população pode ser explicada pelo alto desemprego, diz Gabriel Wainer, analista de mídias da.Map. Em maio, 13,8 milhões de pessoas estavam desempregadas no país, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
De acordo com Wainer, há uma parcela leiga da população que vê a queda da inflação como algo positivo, mas para quem o dinheiro não dura até o fim do mês. Esse público encontra dificuldades para pagar despesas corriqueiras, como contas de água e luz. “As pessoas estão fazendo piada, compartilhando notícias a respeito da queda da inflação e comparando isso com o tamanho da renda que têm. É uma ironia constante”, afirma. A queda do IPCA, segundo ele, “tem um histórico de ser celebrada”, com o IP Inflação se aproximando de 100% quando o indicador de preços recua e ficando perto de 0% quando sobe. Na última semana, no entanto, o IP Inflação teve “positividade moderada”, de 65%, mesmo com o noticiário antecipando a deflação de junho.
Além disso, há outra parcela da população, “que não é leiga”, tende a se opor ao presidente Michel Temer e que enxerga a recessão como a principal causa da queda da inflação. “A discussão entre esse público estava muito em torno de que a deflação poderia acontecer porque não tem mais consumo, e não por mérito do governo”, afirma Wainer.

 

Via Valor Econômico