Carlos Kawall, economista-chefe do Banco Safra, falou a empresários joinvilenses em palestra feita na Acij. Ele avalia que o ambiente internacional é fundamental para os negócios das empresas brasileiras e alerta para o fato de que a crise nacional demora 20 trimestres para ser completamente debelada. A coluna resume o pensamento do economista sobre cenários econômicos.

 

CENÁRIO EXTERNO DETERMINANTE

Por mais que aqui aconteçam fatos relevantes, o cenário internacional é determinante e está nos ajudando muito. Temos que torcer para se manter assim, porque, se mudar, provavelmente vai mudar para pior. Há um maior otimismo com o crescimento da economia global. Desde 2011, quando entrei no Safra, esse deve ser o melhor ano. Em parte, por causa da China, com crescimento superior a 6%, e sobretudo, à Zona do Euro, que deve crescer 2,1%, quase o mesmo que os Estados Unidos. É um ótimo ano sob o ponto de vista da economia global.

 

INFLAÇÃO E JUROS

Ao final do ano, a inflação ficará entre 3% e 3,5%. Pode crescer um pouco, por causa do esperado aumento da energia, diante da escassez de chuva. A taxa Selic terminará o ano na casa dos 7%, com o PIB crescendo 0,6% neste ano e mais de 2% em 2018. Vivemos num mundo de pouca inflação. Um fenômeno que nós, economistas, não conseguimos entender muito bem. Estamos começando a nos beneficiar disso. A “Selic” dos EUA está muito baixa, o que é também um cenário favorável e beneficia o preço de nossas principais commodities, agora em elevação. E, ainda, tivemos uma supersafra, uma coisa espetacular.

 

EFEITO FED

Outra variável importante é o que Fed (Banco Central dos Estados Unidos) vai fazer com a taxa de juros. O desemprego lá vem caindo, e se o dólar se valorizar no resto do mundo, também vai se valorizar no Brasil. É um grande destaque neste ano o euro, num ano de dólar fraco. O dólar fecha o ano em R$ 3,20.

 

INVESTIMENTO

O investimento, no entanto, não se recuperou. A construção civil tem estoque, mas há sinais de recuperação da indústria da construção. Quebramos exatamente naqueles segmentos que dependem de crédito. Estão se recuperando mais rapidamente, mas tiveram uma crise mais profunda e caíram primeiro.

 

TAMANHO DA CRISE

AS CRISES ANTERIORES NÃO FIZERAM NEM CÓCEGAS EM COMPARAÇÃO COM ESSA. CAÍAMOS NO BURACO E JÁ ESTÁVAMOS DE VOLTA EM QUATRO A CINCO TRIMESTRES. NÓS, AGORA, VAMOS LEVAR 20 TRIMESTRES PARA SAIR DO BURACO. OU SEJA, VOLTAREMOS AO PIB DE 2014 EM 2019. TECNICAMENTE, NESTE ANO, O BRASIL SAIU DA RECESSÃO, QUE É TER CRESCIMENTO EM PELO MENOS DOIS TRIMESTRES CONSECUTIVOS. 70% DA NOSSA ECONOMIA SÃO CONSUMO. SE O CONSUMO NÃO CRESCE, NÃO HÁ O QUE SALVE.

 

MERCADO DE TRABALHO

A recessão mais grave americana provocou desemprego de 10%. Aqui, chegamos a 13%. Precisávamos gerar 400 mil vagas ao ano e geramos 106 mil. Paramos de perder empregos, mas ainda é insuficiente. Nossa legislação era altamente inflexível. Nos EUA e na Alemanha, se protege o emprego e não o empregado. Eles não querem demitir. Eles querem diminuir custo.

 

ENDIVIDAMENTO

O setor privado foi pego com um nível de endividamento muito elevado. Ainda temos um problema de crédito. Famílias têm endividamento que atinge 45%, mas o percentual deve cair em 2018, com a queda da taxa de juros, aliviando as famílias. Foi de 17% no passado recente.

 

O PROBLEMA

O problema do Brasil não é no setor privado. O problema do Brasil é do governo. Aceitamos continuamente aumentos de carga tributária. 95% da despesa do governo são obrigatórios. E 75% desse total são despesas constitucionais, mais 20% que são dispositivos legais. Os 5% que sobram são custeio e investimentos. Por isso, não sobra nada para investimento, e a situação permanece dramática.

A eleição vai ser marcada por uma rejeição ao status quo vigente. O foco é na questão ética, abrindo espaço para novos partidos, novas lideranças.

 

Via A Notícia – Coluna Claudio Loetz