Em junho, com a queda da cotação do dólar, as transações correntes apresentaram déficit de US$ 2,5 bilhões. O que minimizou esse quadro foi o ingresso líquido de US$ 3,9 bilhões em investimento direto no País, evidenciando a dependência do capital externo.

“A situação fiscal do País [com uma meta fiscal de déficit primário de R$ 170,5 bilhões para 2016] implica a forte dependência do capital externo porque o gasto público brasileiro é muito alto e o Estado não consegue direcionar recursos para realizar novos investimentos ou para manter obras ativas, como na área de infraestrutura”, explicou o professor de economia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) Antônio Carlos Alves dos Santos.

Neste cenário de dependência, os investimentos diretos no País ainda não devem apresentar uma perspectiva de melhora para este ano, já que os investidores estrangeiros estão em compasso de espera por um cenário político mais estável – conclusão do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff, previsto para o final de agosto.

Mas, mesmo após a decisão, e se houver a confirmação de permanência do presidente interino Michel Temer, os estrangeiros ainda devem postergar seus investimentos de médio e longo prazo, aguardando também pelo cenário pós-impeachment; sobre como será o apoio de Michel Temer no parlamento; o desenrolar das investigações da Operação Lava Jato; e publicação de indicadores econômicos mais consistentes.

“Quando se faz um investimento com um grande montante, os empresários levam também em consideração o risco político do País, porque eles dependem da expectativa de retorno do seu negócio”, informou o professor.

Outro fator que pode dificultar a entrada de investimentos diretos é a instabilidade da cotação do dólar. Isso dificulta o planejamento e tomada de decisões dos investidores, que precisam se proteger contra essa volatilidade da moeda americana. Em apenas cinco meses deste ano a cotação do dólar Ptax foi de R$ 3,95 em 26 de fevereiro para R$ 3,52 em 26 de abril e fechando ontem (26) cotado aos R$ 3,27.

Neste contexto, o setor de infraestrutura deve ser o mais afetado, com isso, Antônio Carlos destacou: “Para o País ampliar o investimento direto ele precisa apresentar perspectiva segura de retorno aos investidores, o que depende de propostas internas. Desta forma, toda negociação a respeito da infraestrutura pode ajudar a atrair investimento direto e há espaço para entrada do capital externo, mas isso vai depender principalmente da questão política”, concluiu Antônio.

Para Pedro Paulo Silveira, economista chefe da Nova Futura Corretora, o investimento especulativo tem crescido no País, devido à taxa básica de juros (taxa Selic), hoje em 14,25% ao ano, considerada alta se comparada as de outros países, onde as taxas podem chegar a zero ou negativas.

“O efeito [dessa taxa alta] foi atrair muito capital estrangeiro que estava sem ter onde ser aplicado. Com isso, entrou muito dinheiro e o dólar acabou despencando para o patamar dos R$ 3,20”, destacou Pedro Paulo ao DCI.

Resultado

Por causa da cotação do dólar nos últimos meses, o balanço do setor externo divulgado ontem pelo Banco Central (BC) mostrou que o resultado de junho, apesar de ter sido o menor para o mês desde 2009, foi o primeiro montante negativo após dois meses seguidos de superávit das transações.

“A balança comercial em junho não repetiu os bons resultados de meses anteriores, foi o primeiro resultado no ano em que o saldo situou-se abaixo de igual período de ano anterior”, afirmou o chefe de Departamento Econômico da autoridade monetária brasileira,

 

Via DCI