- Receitas com carne bovina chegam a US$ 14 bi no ano; as com café, a US$ 12,9 bi
- Em três meses, exportações para os EUA recuam 28% em valor
O corte parcial da tarifa imposta pelos Estados Unidos aos produtos brasileiros vai ter pouca mudança para o agronegócio. Mesmo com o tarifaço americano, no entanto, o setor deverá ter receitas recordes neste ano, podendo chegar a US$ 170 bilhões. Nos últimos três meses, período da vigência das tarifas norte-americanas, o Brasil colocou produtos no valor de US$ 44,7 bilhões no mercado externo, 5,4% a mais do que em igual período de 2024. Já as receitas provenientes dos EUA caíram para US$ 2,2 bilhões, 28% a menos.
Dois dos principais produtos da balança comercial do agronegócio brasileiro, café e carne, vivem momentos bem diferentes. Os americanos compraram 56,6 mil toneladas de café no trimestre mencionado, 40% a menos. Mas não foram só os americanos que reduziram as compras. Dos cinco principais importadores, apenas o Japão manteve volume semelhante ao de agosto a outubro de 2024.
A Alemanha, principal mercado do Brasil, comprou 37% a menos no período; a Itália, 29%; a Bélgica, 46%, e a Espanha, 26%. Parte dessa redução pode ser explicada pela antecipação de compras no segundo semestre de 2024, quando a oferta de café era bastante incerta, devido a eventos climáticos no Brasil e no Vietnã, os dois principais produtores mundiais. Além disso, a ameaça da União Europeia de pôr em prática a lei antidesmatamento no início deste ano acelerou as importações pelos europeus.
A redução se deve também aos preços elevados do café no mercado internacional. De janeiro a outubro, o Brasil exportou 1,93 milhão de toneladas, 19% a menos do que em igual período de 2024. As receitas, no entanto, subiram para US$ 12,9 bilhões, 32% a mais, segundo dados da Secex (Secretaria de Comércio Exterior). O Brasil conseguiu colocar mais café em países produtores e que também abastecem o mercado americano. A Colômbia elevou em 394% as compras no mercado brasileiro de agosto a outubro, e o México, em 68%. A China, que vem aumentando o consumo interno, comprou 167% a mais no período.
Um dos motivos da redução da tarifa promovida pelos Estados Unidos foi o peso no bolso do consumidor. Os americanos estão pagando 19% a mais pelo café do que há um ano. Essa alta, porém, não é privilégio só deles, uma vez que no Brasil, líder mundial em produção, o café acumula elevação 59% no mesmo período. O efeito no bolso do brasileiro é ainda mais perverso do que no do americano. Aqui, de cada R$ 100 gastos no mês, R$ 0,53 é com café. Lá, o percentual é de 0,15%.
A carne vive uma realidade completamente diferente. Os Estados Unidos, devido ao tarifaço, reduziram a compra da proteína para 32 mil toneladas de agosto a outubro, 55% a menos do que em igual período de 2024. As exportações brasileiras para o mercado internacional, no entanto, atingiram 995 mil toneladas no período, 20% a mais do que em 2024.
A China elevou as compras em 33% no período; o México, em 131%; a Itália, em 89%; a Rússia, em 42%, e o Chile, em 21%. O México tem se mostrado um bom mercado intermediário entre Brasil e Estados Unidos. Foi o principal país da América Latina em elevar as compras tanto de café como de carne bovina.
Apesar das tarifas altas para os produtos do agronegócio brasileiro, as empresas norte-americanas se adaptam e elevam as compras por aqui. No mês passado, a importação americana de café superou em 16% a média de agosto e setembro. A de carne bovina foi 35% maior.

