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Tratado de livre-comércio com Canadá pode avançar em outubro e, segundo especialistas, teria ritmo mais acelerado do que as negociações com a União Europeia

Um acordo de livre-comércio Mercosul-Canadá reduziria a cobrança de taxas sobre a exportação de dois mil produtos brasileiros, disse Alexandre Sampaio de Arrochela Lobo, coordenador de negociações no Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços.

“Há um potencial enorme neste acerto, com benefícios para 30% dos produtos vendidos para os canadenses, que atualmente são tributados no processo de exportação”, afirmou o especialista.

Segundo ele, o setor agrícola seria o principal favorecido pela mudança. Hoje, a taxação média sobre esses produtos brasileiros é de 17% no Canadá. Lobo indicou ainda que ramos industriais, como o têxtil, que tem tributação média de 18%, e o automotivo (13%), seriam beneficiados pelo compromisso.

A redução dos tributos também sobre importação poderia auxiliar os empresários brasileiros que compram insumos canadenses. Neste caso, os produtores de aeronaves, farmoquímicos, químicos orgânicos e derivados da carne estariam entre os mais ajudados.

Sobre a viabilidade do projeto, o representante do MDIC defendeu que a negociação deve ser “mais fácil” do que aquela que acontece com a União Europeia – a conversa com os europeus por um acordo de livre comércio já dura 15 anos.

“Vejo muito mais facilidade no caso do [acordo com o] Canadá, principalmente porque as pautas de exportação dos países são complementares. No caso da União Europeia, as pautas são concorrentes, o que complica a situação”, explicou o especialista.

“Além disso, é mais fácil negociar com um país do que negociar com 27”, comparou Lobo, referindo-se à atual quantidade de membros do bloco europeu.

O entrevistado disse ainda que a indústria brasileira dá maior apoio para o acerto com os canadenses. “Já fizemos duas consultas e ambas mostraram que o setor privado está engajado e já tem propostas significativas”. De acordo com ele, a mesma disposição não foi vista durante a construção da proposta para os europeus.

Outro fator que deve colaborar com a negociação é a menor presença, no Canadá, do discurso protecionista que ganhou força na Europa e nos EUA. “Foi provado, muitos anos atrás, que esse exercício de livre comércio é necessário para o crescimento econômico canadense. Por isso, esse movimento [protecionista] não tem a mesma proporção que hoje é vista em outros lugares do mundo”, afirmou Stéphane Larue, cônsul-geral do Canadá em São Paulo.

A autoridade sinalizou que o acordo com o Mercosul é visto como “uma possibilidade bastante interessante”. Segundo ele, os canadenses estiveram ocupados com outras negociações nos últimos anos, mas agora consideram a conversa com o bloco sul-americano como uma prioridade.

Fabrizio Panzini, especialista do departamento de relações internacionais da Confederação Nacional da Indústria (CNI) também demonstrou otimismo com o acerto. “O setor agropecuário, que costuma ser um empecilho nesses acordos, parece não ser um ponto de sensibilidade no lado canadense”, justificou.

Próximos passos

Ainda fora do calendário oficial, a próxima reunião entre os países deve acontecer na semana do dia 17 de outubro, afirmou Grace Tanno, subchefe da divisão de negociações extrarregionais do Ministério de Relações Exteriores.

Após início em 2010, apenas três encontros marcaram as conversas entre Mercosul e Canadá. Para Grace, o posicionamento no hemisfério sul ficou mais favorável ao acordo desde o último evento, em 2012.

A especialista destacou a mudança de governo na Argentina, que, hoje, tem Mauricio Macri na presidência, como positiva para o tratado. “Agora deve haver mais espaço para essa retomada das negociações”, indicou.

Grace e os outros três entrevistados participaram, ontem, do evento “Negociações Mercosul-Canadá: próximos passos, desafios e oportunidades”, promovido pela Câmara de Comércio Brasil-Canadá.

Corrente comercial

De janeiro a julho, o Brasil recebeu US$ 1,351 bilhão por exportações para o Canadá, alta de 10% ante igual período de 2015. Já as importações registraram queda de 28% no mesmo período, para US$ 1,025 bilhão. Nos sete meses de 2016, os principais produtos vendidos foram óxido de alumínio (US$ 417 milhões), ouro em barras (US$ 159 milhões) e bulhão dourado (US$ 143 milhões). Os dados são do MDIC.

 

Via DCI