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Devido à taxa de juros muito baixa nos Estados Unidos, na Europa e no Japão, os investidores estão mais propensos a aplicar nas economias em desenvolvimento, com remuneração maior

O risco Brasil – calculado com base em contratos de seguros de crédito internacionais Credit Default Swap (CDS) – recuou de 505 pontos, no início do ano, para patamar de 250 pontos ontem. Mesmo assim, esse número é o mais alto entre os emergentes.

A taxa de risco do Brasil fica acima da praticada em relação a países como: Turquia (239 pontos), Rússia (222), África do Sul (221), Colômbia (168), México (133), Peru (100) e Chile (67).

Na avaliação de economistas consultados pelo DCI, a percepção sobre a possibilidade de o Brasil dar calote (default) diminuiu ao longo de 2016, mas, ao mesmo tempo, os investidores também estão aceitando mais riscos em países emergentes devido às baixas taxas de juros praticadas atualmente nos Estados Unidos, Europa e Japão.

“O risco Brasil reage para baixo por causa de movimentos locais e internacionais. Mas a verdade é que o mundo inteiro está mais conivente e tolerante com o risco. As taxas de juros ‘lá fora’ estão muito baixas. Essa queda importante nos juros permite que os agentes financeiros e os empresários tomem mais riscos e decidam investir”, disse ao DCI o economista-chefe da Nova Futura, Pedro Paulo Silveira.

“As taxas de risco recuaram no mundo todo neste ano, mas a do Brasil foi que a caiu mais, embora supere a de outros emergentes. Depois do impeachment [de Dilma Rousseff] e das reformas, o risco Brasil tende a cair um pouco mais”, aponta economista-chefe Paulo Eduardo Nogueira Gomes, da Azimut Brasil Wealth Management.

Ele contou que o risco Brasil atingiu sua máxima em 533 pontos em 28 de setembro de 2015, nas vésperas de o País perder sua nota de grau de investimento (selo de bom pagador) pelas agências internacionais de classificação de risco. “A mínima [brasileira], de 123 pontos, ocorreu em 3 de setembro de 2014”, identificou Nogueira Gomes.

Sem coincidências, o período da mínima da taxa de risco em setembro de 2014 em plena corrida eleitoral no Brasil fora registrado num breve momento em que os representantes da oposição (Aécio Neves e Marina Silva) pareciam ter forças para evitar a vitória de Dilma Rousseff no segundo turno.

Pedro Silveira lembrou que a máxima foi registrada num momento conturbado, quando o então ministro da Fazenda, Joaquim Levy, no segundo mandato de Dilma Rousseff não conseguia passar medidas do ajuste fiscal no Congresso. “Naquela época, a política do governo estava trombando com o Congresso, que preferia ver Dilma exaurida”, disse.

Na visão do economista-chefe da Modalmais, Alvaro Bandeira, hoje, a situação do governo em exercício de Michel Temer é bem diferente do cenário de 2015. “O Brasil não tem risco de default [calote]. Ao contrário do que se dizia, o Brasil não quebrou. A tendência é essa, que o risco País recue ainda mais depois do impeachment [afastamento definitivo]. A credibilidade aumenta e há muita liquidez no mercado internacional para novas captações”, aponta.

Custo das reservas

Com base em dados do Banco Central (BC), o Brasil, hoje, é credor em moeda estrangeira. As reservas internacionais somam o montante de US$ 376,7 bilhões pelo conceito de caixa, enquanto a dívida externa total é de US$ 332,6 bilhões. Ou seja, o País poderia pagar toda a sua dívida externa em dólar e ainda ficar com US$ 44,1 bilhões no caixa para bancar quatro meses de importações.

Do total do endividamento externo bruto, o setor público responde por US$ 129,4 bilhões, sendo US$ 122,8 bilhões no longo prazo e US$ 6,6 bilhões no curto prazo. Já o setor privado corresponde pela maior parte da dívida externa, sendo US$ 150 bilhões no longo prazo, e US$ 54 bilhões com vencimentos no curto prazo.

“O endividamento do setor privado aconteceu porque é mais barato captar no exterior do que pagar juros no Brasil. As taxas vão continuar muito baixas ‘lá fora’. Mas o problema do Brasil é que as reservas são muito caras para carregar por causa dos nossos juros”, alertou Pedro Paulo Silveira.

Alvaro Bandeira, da Modalmais, também diz que a manutenção das reservas no atual patamar tem um custo elevado com juros a 14,25% ao ano no Brasil. “Haverá muita discussão sobre isso. Mas ainda não é o momento de abrir mão de uma parte das reservas [para antecipar dívidas]”, ponderou.

Já Nogueira Gomes, da Azimut, diz que o atual presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn iniciou a discussão sobre o tamanho das reservas internacionais brasileiras. “Há uma discussão sobre os custos e os benefícios desse patamar”. Nos cálculos dele, os custos de manutenção das reservas giram em torno de R$ 167 bilhões por ano. “Quando entram dólares, o BC tem que colocar títulos [em reais] para esterilizar a liquidez”, explicou.

Na recente presidência de Ilan Goldfajn, a autoridade monetária tem feito leilões de swaps cambiais reversos, que estão gradualmente neutralizando swaps antigos da época de Alexandre Tombini, utilizados para proteger as empresas brasileiras das oscilações do dólar. “O reverso não está sendo utilizado para resolver um problema da gestão anterior, mas para conter a queda do dólar”, diz Pedro Silveira.

 

Via DCI