O joio no trigal

A malversação do dinheiro público não é característica de gestores contemporâneos e nem tão pouco de uma determinada região. O assunto é vivenciado no cotidiano pelas mídias que divulgam as ações dos órgãos investigativos. Enquanto os fatos ocorrem em Brasília, são pífias as repercussões locais. Na medida que se aproximam, mudam de figura. Em se tratando do Executivo, pairam sobre os cidadãos uma certa tranquilidade. Sabendo que o ato de fiscalizar prefeitura é da Câmara de Vereadores, são grandes as expectativas de que o trabalho esteja assegurado.

Competência de vereador
Trazendo os fatos à realidade, não é bem assim. A Operação Mensageiro emplacou negativamente SC no cenário nacional, no que se refere ao sistema de coleta de resíduos sólidos, provenientes dos descartes praticados pela população. O lixo, que todos rejeitam, acabou sendo um prato cheio, por vezes, causando indigestão a muitos gestores. Para tal, ocorreram etapas, como a das licitações. Justamente quem, além das outras nobres atribuições possui o dever de acompanhar e fiscalizar as ações e se as metas orçamentárias estão sendo cumpridas, falhou. Foram-se os tempos de propor nomes de ruas ou caminhões de areão para tapar buracos em troca de votos.

Onde estavam?
Não compete, neste espaço, atribuir juízo de valor ou de insinuar qualquer julgamento, mas se há tanto tempo, segundo dados amplamente divulgados, os “obscuros” negócios vinham sendo efetivados, onde se encontravam esses ilustres que se autoproclamam representantes do povo? Não se trata de questionamento isolado, e sim de manifestação na ponta da língua de qualquer leigo.

E vem a disputa

Se era de responsabilidade acompanhar e fiscalizar as ações, se tentaram e não foram ouvidos, se passou despercebido ou quem sabe se foi feito vistas grossas, como formar e encarar candidaturas para o exercício no Paço Municipal? Soa como paradoxo, e talvez a sociedade ainda discorde, não tem o aval ou poder suficiente para romper essa barreira, blindada por força legal. Lembrando que o juramento feito por ocasião da posse tem que ser honrado, dando-se o direito de aprovação em outros pleitos. Espera-se, por último, dos futuros gestores, a realização de boa colheita para estancar a sangria da corrupção, camuflada em joio, semeado entre o trigal.

Cidade azul
Na próxima sexta, completamos o 35° aniversário no exercício das funções de auditor fiscal da receita estadual, após transcorridos outros cinco por São Miguel do Oeste e Araranguá. Mudanças de paradigmas no conceito de contribuinte, representatividade, respeito e cidadania. Tempos em que não há arrependimentos de atitudes e ações tomadas e enfrentadas, sempre com o intuito de partilhar, mesmo na severidade, sem ultrapassar os limites legais constituídos. Na cidade que adotamos para viver, enquanto se puder contribuir para o seu melhor, assim será feito. Obrigado, Cidade Azul.

Gatonet 
O que se tem ouvido nos últimos tempos são as infinidades de formas que se criam para burlar, trapacear e furtar os cidadãos menos esclarecidos. Mas também existe uma leva muito esclarecida, usando de artimanhas semelhantes. Veja o caso dos gatos em TV a cabo que os órgãos de investigação estão deflagrando operação. É bom se precaver e também se autoavaliar, quando chamo políticos de corrupto, se faço o mesmo, perco a moral.

Refletindo
“No tempo certo colhe-se o trigo e queima-se o joio”.  Uma ótima semana!

Por Pedro Hermínio Maria – Auditor Fiscal aposentado da Receita Estadual de SC

“Este é um artigo de opinião, cujo teor é de inteira responsabilidade do autor, e não expressa necessariamente a opinião desta entidade, não sendo, portanto, por ela endossado.”