O consumo vem desacelerando o ritmo de queda desde dezembro de 2016, porém a perspectiva ainda ruim para o emprego e incertezas com relação à aprovação de reformas podem ser obstáculos para a retomada do indicador e, consequentemente, da economia.

No trimestre encerrado em janeiro de 2017, o Monitor do PIB, calculado pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV), registrou contração de 1,4% em relação a igual período de 2016. Apesar do recuo, o índice vem apresentando quedas menores desde outubro de 2016, na mesma base de comparação.

Já o consumo das famílias, que responde por 64% do PIB, caiu 2,6% no trimestre encerrado em janeiro, ante igual período do ano passado. Esta foi a 24ª queda do componente nessa base de comparação. Porém, desde dezembro de 2016, o consumo vem registrando recuos menores. Outra notícia positiva é que a compra de bens duráveis voltou a avançar (+0,5%) em janeiro, após 32 meses de contração.

Para o economista do Ibre, Claudio Considera, a expansão da aquisição de bens duráveis pode ter refletido a melhora da confiança dos consumidores que, segundo dados do Ibre, vem crescendo desde dezembro de 2016. Nas projeções da instituição, o consumo deve avançar 0,4% neste ano, em relação a 2016. “Mas, para isso acontecer, ele [o consumo] precisa começar a ficar positivo neste segundo trimestre, na margem”, pondera Claudio.

“A queda da inflação e a liberação das contas inativas do FGTS podem ajudar a estimular o consumo e, portanto, a atividade como um todo. Mas, por outro lado, para termos um crescimento sustentável, as reformas [da previdência e trabalhista] precisam se concretizar. Ainda há incertezas sobre a aprovação delas.”

Desemprego

Já o professor de economia Ulisses Ruiz de Gamboa, da Universidade Presbiteriana Mackenzie, pontua que há muitos obstáculos para a retomada do consumo. os quais levam a acreditar que o PIB deve ficar mais próximo de zero do que de 0,5%. “O cenário continua muito ruim. O desemprego está aumentando, a renda está caindo e o crédito está muito difícil”, diz Gamboa.

No trimestre encerrado em fevereiro, a taxa de desemprego no Brasil chegou a 13,2%, segundo o IBGE. “Esse cenário deprime muito o consumo, que é o grande pilar do PIB pelo lado da demanda [64%]. Com o consumo enfraquecido, os serviços também são impactados negativamente, setor que, por sua vez corresponde pela maior parte do PIB [74%], pelo lado da oferta”, acrescenta o professor do Mackenzie.

Ele menciona ainda que outra incerteza que começou a surgir no cenário são as eleições presidenciais de 2018. “Ninguém sabe o que vai acontecer no próximo ano”, afirma ele, comentando que esta incerteza pode atrasar planos de investimentos e de contratações de funcionários.

Para Gamboa, a terceirização não deve impulsionar novas vagas até o último trimestre deste ano. “Quando a atividade começar a retomar, a tendência é que as empresas aumentem a sua produção com o corpo de funcionários já existente. A capacidade ociosa da mão de obra ainda é grande. As contratações devem voltar só no final de 2017, início de 2018”, afirma o professor.

Claudio da FGV acrescenta que as exportações e a agropecuária estão segurando o PIB, mas que estes correspondem a apenas a 12,5% e a 5,5% do indicador. No trimestre encerrado em janeiro, as vendas externas avançaram 1,7%, enquanto a agropecuária cresceu 1,6%, no mesmo período.

 

Via DCI