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Projeto fortaleceu discussões sobre qualidade da educação e pode impulsionar a economia

Depois de amplos debates, análises e cálculos, a Assembleia Legislativa de Santa Catarina (Alesc) deve aprovar o projeto Universidade Gratuita, uma promessa de campanha pouco comum, feita pelo governador Jorginho Mello (PL). Além de um novo desafio, esse programa trouxe à tona uma visão mais profunda da importância da educação em todas as fases – da pré-escola ao ensino superior –  o que pode ser um ponto de virada para o desenvolvimento econômico e social do Estado.

A economia global estampa a realidade da atual era do conhecimento. Das 10 marcas mais valiosas do mundo no começo de 2023, segundo a revista Forbes, cinco são de tecnologia e as big techs lideravam as quatro primeiras posições: Amazon, Apple, Google e Microsoft, mais a Tiktok em décimo lugar.  

As universidades têm papel de protagonistas na formação de pessoas, geração de conhecimento técnico, gerencial e científico para negócios. Essa é a principal razão pela qual a economia dos Estados Unidos é a maior do mundo desde 1890 e consegue se reinventar sempre.

Uma das universidades ícones dos americanos é Harvard. Os fundadores da Microsoft e Facebook estudaram lá, embora não tenham terminado os cursos. Outra é o MIT (Massachusetts Institute of Technology). Essa chamou a atenção em 2015 ao fazer uma sondagem para ver o impacto das empresas criadas por seus alunos e professores. Apurou que foram pelo menos 30 mil empresas que somavam receita anual de US$ 1,9 trilhão e geravam 4,6 milhões de empregos pelo mundo.

Santa Catarina também tem sua trajetória virtuosa impulsionada pelas universidades. A mais famosa é a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), que nos últimos 50 anos foi a propulsora do polo tecnológico do Estado. Desde que foi instalada passou a fazer diferença em diversas áreas. Nas engenharias, por exemplo, foi fundamental para empresas como a WEG, Embraco (hoje Nidec) e Tupy, só para citar algumas do setor metalmecânico.

Mas as universidades comunitárias e as particulares, instaladas nas diversas regiões de Santa Catarina, que serão beneficiadas agora com o programa Universidade Gratuita, também têm desempenhado papel relevante na formação de profissionais para o Estado em diversas áreas, além de realizar pesquisa e trabalhos de extensão. Para a economia, elas são a base para formar profissionais, aprimorar conhecimentos de quem está trabalhando e, também, para quem abre novos negócios.

Entre os nomes fortes do setor empresarial de SC que fizeram graduação na Univille, por exemplo, universidade comunitária de Joinville, está Amaury Olsen, graduado em administração, que presidiu a Tigre e hoje é conselheiro empresarial. Ninfo König, graduado em economia, fundou a indústria Akros, vendida posteriormente para a Amanco, e a financeira Valorem.

No Sul do Estado, o empresário Beto Colombo, fundador da Anjo Tintas, de Criciúma, cursou administração na Unisul, d Tubarão, quando era comunitária, e Hugo Olivo, fundador do Grupo La Moda, fez Ciências Contábeis na Unesc, de Criciúma. Entre os exemplos recentes estão três profissionais da área de tecnologia de Criciúma que fundaram a Procer, empresa que faz sistemas para conservação de grãos em silos, que atua no Brasil e América Latina.

O investimento previsto pelo Estado para o programa Universidade Gratuita vai de R$ 228,5 milhões em 2023 para 30 mil vagas, até R$ 1,2 bilhão em 2026 para 75 mil vagas. Esses valores se somam com o investimento anual na Udesc, que representa 2,49% da receita do Estado e, para este ano, foi orçado em R$ 763,64 milhões.

Além disso, estão previstos para este ano R$ 505 milhões para o Programa de Bolsas Universitárias de Santa Catarina (Uniedu). Mesmo assim, SC não chegará perto da média do Estado de São Paulo, que investe 9,57% da receita nas suas três universidades públicas estaduais, USP, Unesp e Unicamp. O que SC precisa é ajustar contas para incluir o custo a mais da nova gratuidade, que o governo informa ser possível.  

Diante de críticas de que o Estado deveria priorizar o ensino básico, o governo reforçou que vai investir este ano R$ 6,7 bilhões no ensino fundamental e médio. Existe o desafio elevar o aprendizado dos estudantes dessas faixas porque está baixo frente aos países desenvolvidos. O Brasil segue nos últimos lugares da pesquisa Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes), da OCDE, que faz esse exame. Outro desafio de SC é ampliar a formação de técnicos, especialmente para as áreas de tecnologia e inovação.  

Mas essa série de debates sobre o Universidade Gratuita deixou mais evidente que é preciso elevar a régua da qualidade da educação no Estado de um modo geral. Como a qualidade depende muito dos professores, é preciso uma atenção para os mestres, incluindo mais cursos de aprimoramento.

Além disso, é preciso melhorar a gestão porque os investimentos em educação não são baixos. O que a comunidade espera é que os resultados positivos apareçam nos testes nacionais e internacionais de avaliação do ensino, em melhores serviços para as pessoas, no impulso de uma economia mais inovadora e mais competitiva no país e no exterior. Quem sabe Santa Catarina pode ter uma big tech entre as 10 mais valiosas do mundo?

Via NSCTotal – Coluna Estela Benetti