Analistas projetavam alta de 0,5% para o mês; Varejo fecha primeiro semestre com avanço de 6,7%

Após dois meses no azul, o volume de vendas do comércio varejista no país caiu 1,7% em junho, na comparação com maio. O resultado, divulgado nesta quarta-feira (11) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), frustrou projeções do mercado.

Analistas consultados pela agência Bloomberg esperavam avanço de 0,5% nas vendas. Mesmo com o desempenho negativo, o varejo conseguiu fechar o primeiro semestre com alta acumulada de 6,7%. Em 12 meses, a elevação foi menor, de 5,9%.

Em relação a junho de 2020, houve alta de 6,3%. No sexto mês do ano passado, o setor sentia os impactos da fase inicial da pandemia, que restringiu o funcionamento de lojas. Analistas consultados pela Bloomberg projetavam crescimento maior nessa base de comparação, de 8,7%.

Segundo o IBGE, o varejo está 2,6% acima do patamar pré-pandemia, de fevereiro de 2020. Em maio, tinha nível 4,3% superior.

A queda de 1,7% em junho veio após revisões no desempenho de meses anteriores. A alta de maio passou de 1,4% para 2,7%. Já o avanço de abril diminuiu de 4,9% para 2,5%.

Cristiano Santos, gerente da pesquisa do IBGE, mencionou que a queda em junho foi uma espécie de “contrabalanço” após as variações positivas. Na visão do pesquisador, a retração nas vendas também guarda ligação com o avanço do desemprego e da inflação. Outro obstáculo, segundo ele, é a restrição de crédito. Em conjunto, esses ingredientes prejudicam o poder de compra das famílias.

Para tentar frear a inflação, o Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central) passou a subir a taxa básica de juros (Selic), o que tende a encarecer financiamentos no país.

“À medida que o juro começa a crescer, o crédito começa a diminuir. Isso rebate no indicador na ponta. É um dos fatores que a gente consegue enxergar. E também há um cenário de inflação”, analisou. Santos ressaltou que o desemprego em alta tem importância no resultado.

Cinco das oito atividades investigadas pela pesquisa recuaram na passagem de maio para junho. A queda mais intensa foi do setor de tecidos, vestuário e calçados (-3,6%), que havia registrado aumentos em abril (16,3%) e maio (10,2%).

“No comércio varejista como um todo, há algumas atividades caindo com mais força porque elas tiveram uma certa recuperação nos meses de abril e maio, elevando a base de comparação. Esse foi o caso de tecidos, vestuário e calçados, que é uma atividade que ainda não teve recuperação frente ao patamar de fevereiro do ano passado”, disse Santos.

Outros artigos de uso pessoal e doméstico (-2,6%), combustíveis e lubrificantes (-1,2%), e hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo (-0,5) também recuaram na passagem de maio para junho.

Já o setor de livros, jornais, revistas e papelaria cresceu 5%. É o terceiro resultado positivo consecutivo dessa atividade. Mesmo com esses aumentos recentes, o setor não conseguiu recuperar o que perdeu durante o ano: a queda acumulada foi de 22,8% entre janeiro e junho.

No comércio varejista ampliado, que inclui veículos, motos, partes e peças e material de construção, o volume de vendas recuou 2,3% em relação a maio. A retração desconta parte do aumento de 3,2% registrado no mês anterior.

Em nota, o economista-chefe da Necton Investimentos, André Perfeito, considerou “decepcionante” o resultado do varejo em junho. Segundo ele, a baixa de 1,7% pode ser explicada, em parte, pela revisão de maio, que turbinou o avanço das vendas naquele mês.

Para Perfeito, o quadro pode trazer “certo desconforto” ao governo federal, “que deverá insistir em estímulos fiscais para o ano que vem e para este ano também”.

Após o impacto inicial da crise sanitária, o comércio ensaiou retomada ao longo do segundo semestre de 2020. Contudo, o avanço da Covid-19 na largada de 2021 e a redução de estímulos à economia geraram economia geraram perda de fôlego nas vendas.

No trimestre encerrado em maio, dado mais recente disponível, a taxa de desemprego foi de 14,6% no país. Havia 14,8 milhões de trabalhadores desocupados à época.

Enquanto isso, o controle da inflação tem sido ameaçado pela pressão de itens como combustíveis e energia elétrica. Ao longo deste ano, a conta de luz ficou mais cara devido à crise hídrica, que encarece os custos de geração de energia.

A seca, aliada ao registro de geadas no mês de julho, também pressiona os preços de alimentos. É que plantações foram danificadas pela escassez de chuva e, em seguida, pelo frio intenso.

Para tentar conter a inflação, o Copom voltou a subir a taxa básica de juros no último dia 4. Na ocasião, confirmou alta de 1 ponto percentual na Selic, para 5,25% ao ano. Foi a maior elevação em 18 anos.

Diante desse quadro, o varejo aposta no avanço da vacinação contra o coronavírus. A imunização é vista por empresários e analistas como mecanismo para garantir maior segurança sanitária e, ao mesmo tempo, elevar a confiança dos consumidores.

Na semana passada, o IBGE divulgou o resultado de junho da produção industrial. No sexto mês deste ano, o indicador das fábricas ficou estagnado, com variação nula (0%) frente a maio. A produção industrial, conforme o IBGE, ainda sofre com a escassez de insumos e a demanda fragilizada por bens diversos.

Nesta quinta-feira (12), o instituto divulga o desempenho do setor de serviços em junho.

Via Folha de São Paulo