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Poucas vezes um governador eleito teve em suas mãos a legitimidade, força eleitoral e ambiente político para fazer mudanças tão profundas na máquina do Estado catarinense quanto Carlos Moisés da Silva (PSL) e seus 71% dos votos válidos conquistados nas urnas do segundo turno. Outsider no mundo político, em sua primeira filiação partidária, sem coligação para satisfazer, com o parlamento dócil, o coronel aposentado do Corpo de Bombeiros tem a faca e o queijo nas mãos como poucos de seus antecessores tiveram.

Eleito e reeleito em primeiro turno em 2010 e 2014, Raimundo Colombo (DEM e PSD) tinha legitimidade e força eleitoral, mas lhe faltava ambiente político. Havia sido eleito graças a uma ampla aliança que ele não construíra – mera continuidade da aliança com PSDB e PMDB que já governava o Estado com o antecessor Luiz Henrique da Silveira (PMDB). Sócios na gestão, pessedistas e emedebistas viviam às turras, como se a arena da disputa situação/oposição tivesse sido transferida do parlamento para o seio do governo.

Não foram poucas as vezes que propostas e intenções de Colombo ou do núcleo pessedista do governo não foram adiante por resistência no MDB. As regionais foram o exemplo mais eloquente – o governo do PSD enfrentou uma batalha difícil para extinguir uma única das polêmicas pastas criadas pela descentralização de Luiz Henrique, a da Grande Florianópolis.

A própria aposentadoria especial dos oficiais da Polícia Militar e dos Bombeiros – que beneficiou Moisés e foi um dos temas prediletos de Gelson Merisio (PSD) no segundo turno – era criticada por Colombo em entrevistas, mas ele não moveu uma palha para pôr fim a elas. Revisão dos valores do duodécimo pago aos poderes foi outro debate que morreu em tímidas iniciativas e grandes pressões contrárias, especialmente do Tribunal de Justiça e do Ministério Público.

Em 2002, Luiz Henrique fez mudanças profundas na máquina, mas no sentido contrário ao atual momento político. Expandiu as estruturas pelo Estado, criou um modelo de êxito político-partidário incontestável e resultados práticos polêmicos. De estrutural mesmo, uma reforma da Previdência estadual, que outra reforma no governo Colombo desfez.   

Em 1991, Vilson Kleinübing (PFL) aproveitou o momento econômico delicado para fazer reformas que acabaram com uma série de privilégios, benefícios, incorporações e aposentadorias esquisitas que permeavam a máquina. Quase tudo foi recomposto por seus sucessores.

Carlos Moisés tem tudo a favor, como já disse no começo do texto – inclusive o momento econômico delicado. A máquina do Estado está cara e direciona mal seus volumosos recursos. Há eco nas ruas para acabar com estruturas e privilégios. Hoje, acreditem, Santa Catarina gasta R$ 85 milhões por ano com auxílio-moradia e indenização por uso do próprio carro para a elite do funcionalismo – cerca de 1,6 mil pessoas. O governador eleito tem força para mexer nesse tipo de coisas, mas deve pensar com a cabeça de quem recebeu de 2,6 milhões de catarinenses uma missão, não com a de servidor público de alta patente.

Via NSCTotal – Coluna Opiara Boschi