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Florianópolis chamou a atenção do Brasil ao completar sexta-feira 32 dias sem registrar mortes devido à Covid-19. Um dia antes, na quinta-feira, o país registrou a triste marca de uma morte por minuto em 24 horas. Não só Florianópolis, mas o Estado de Santa Catarina conseguiu, até aqui, manter achatada a curva de óbitos e ter baixa ocupação de leitos de UTI para a doença, enquanto retomou a maioria das atividades econômicas. Até sábado (06/06), SC tinha registrado 166 mortes.

Como foi possível alcançar esses resultados abaixo da média nacional no enfrentamento do novo coronavírus? Dá para concluir que foi a combinação de desenvolvimento econômico mais equilibrado – há anos SC tem a menor taxa de desemprego do país –, bom nível de educação e medidas preventivas. Significa que, no Estado, um maior número de pessoas entendeu o alto risco desse vírus, tão bem resumido numa frase do pesquisador da Fiocruz e ex-ministro da Saúde, José Gomes Temporão: “Na cabeça de um alfinete cabem 100 milhões de partículas de vírus”. Imagina como isso pode se propagar…

Essa leitura da combinação de economia, educação e prevenção permite ser feita pelo conjunto dos resultados catarinenses e também de outros Estados do Sul que têm média baixa de perda de vidas. Isso porque os registros de mortes por Covid não incluem renda, escolaridade, cor de pele e outras informações, informou para a coluna a superintendente de Vigilância em Saúde, da Secretaria de Estado da Saúde, Raquel Bittencourt.

O governo estadual acertou ao decretar lockdown em 17 de março, a maioria da população entendeu os riscos e passou a se cuidar. Também é nesse momento agudo de uma crise inesperada que a formalização maior do mercado de trabalho faz diferença. Como a taxa de desemprego do Estado estava em 5,3%, a maioria dos trabalhadores de SC estava ocupada.

Com o isolamento, foi possível parar um tempo para cuidar da saúde sem perder renda ou mantendo parcialmente os ganhos. Uma boa parte das empresas conseguiu manter os profissionais com a ajuda da MP emprego. Os trabalhadores demitidos contam com o seguro-desemprego e quem não tinha essas proteções pôde recorrer ao auxílio emergencial. Desta forma, conseguiram se proteger em casa. Quando essa proteção ao trabalhador se encerrar, a torcida é que a economia esteja mais aquecida e possa retomar a geração de empregos.

Outra mudança que ajudou na menor difução da Covid-19 em SC foi o fato de muitos empregadores terem adotado home office ou ter liberado seus funcionários do trabalho, mesmo quando foi possível retomar atividades. Assim, colaboraram para reduzir a circulação de pessoas.

Um dos dados que mostram equilíbrio na incidência da pandemia em SC, independentemente do nível de renda, é a ocupação dos leitos de UTIs para Covid-19. Tanto nos hospitais públicos, quanto nos privados, a ocupação geral do Estado não tem ficado acima de 20%.

Nos Estados mais afetados há uma clara incidência maior da doença em comunidades mais pobres, com elevada ocupação de hospitais públicos. Nessas regiões, há também maior circulação de pessoas em comunidades, seja por falta de informação, seja por falta de renda. Isso tem resultado em mais cados da doença.

Em Santa Catarina, esses dois meses e 20 dias de isolamento, mesmo parcial desde meados de abril, permitiram que um maior número de pessoas se conscientizasse dos riscos da doença e que o uso de máscaras fosse disseminado. A dúvida, a partir de agora, é se o vírus terá maior difusão com a retomada restrita do transporte coletivo ou a curva de novos casos seguirá baixa pelo fato de a população seguir se cuidando. Se o número de casos avançar, o governo já sinalizou que voltará a impor restrições no transporte.

Via NSCTotal – Coluna Estela Benetti