Como um maremoto, as ondas turbulentas que as delações vêm causando na operação Lava Jato atingem os quatro cantos do país. A expertise utilizada pelos irmãos Batista trouxe benefícios como o de se livrarem da prisão. Em contrapartida, causaram um estrago enorme em personalidades da vida pública e privada. Cabe a cada um dos citados provar que os fatos não espelham a realidade relatada. A sociedade aguarda por explicações convincentes. Afinal, quem não deve não teme.

E os estragos já podem ser sentidos com a saída prematura do secretário Antônio Marcos Gavazzoni, deixando uma lacuna no governo e, principalmente, na Secretaria da Fazenda, por ter imprimido um ritmo de trabalho e de gestão de aprovação unânime. Gavazzoni mexeu literalmente na pasta e no governo com várias iniciativas, como a da Tese de SC, que permitiu que Estados renegociassem as dívidas com a União. Sem a energia e disposição de enfrentar os problemas do Estado, recolhe-se para se dedicar à defesa.

Enquanto o assunto borbulhava, Colombo convidou Almir Gorges, auditor fiscal aposentado desde dezembro passado, que, de pronto, aceitou o desafio em mares turbulentos. Sem chances às especulações pela vacância do visado cargo estratégico.

Perfil ao cargo

Servidor durante quatro décadas, em que exerceu as funções de auditor fiscal, diretor de Administração Tributária e secretário-adjunto da Fazenda, Gorges não terá dificuldades em trilhar o chão que ajudou a pavimentar. Experiente em receita e controle das despesas, e auxiliado por um batalhão de excelentes profissionais, não vai dar mole a sonegadores e nem a perdulários com a coisa pública. Com a chave do cofre nas mãos, vai controlar a torneira, permitindo escorrer o estritamente necessário. Também foi na sua gestão a ideia do Estado na Medida, de melhoria nos processos e na produtividade. Seu retorno, para conduzir a nau fazendária com a missão de estender “tapete vermelho” a quem se estabelecer em SC gerando emprego e renda, está marcado para 1º de junho. Para conduzir a nau fazendária em mares revoltos, é o perfil.

Milagre da carne

O enriquecimento do patrimônio se dá por razões algumas conhecidas: herança, loteria e sorte no casamento. Outras, como negociação de produto ou serviço na hora e local certos e conhecimento de pessoas que possam conduzir a mercado promissor, também são correntes conhecidas. Mas aquela a que a maioria atribui o sucesso é a do muito, muito trabalho. Acompanhando o negócio das empresas enroladas na Lava Jato, enxerga-se outro viés. O do dinheiro proveniente do setor público, de empréstimos como os dos bancos de desenvolvimento (fonte de produtos ilícitos). Em uma década e meia a JBS obteve um lucro exorbitante, pulando do respeitado 1,9 bilhão para cerca de 170 bilhões de reais, tornando-se assim a maior processadora de proteínas animais do mundo. Mas em débito com a Previdência… É um verdadeiro milagre da carne. Ou não?

Cerco aos regimes

A Administração Tributária estabeleceu, a partir de maio, controle rigoroso das empresas detentoras de Tratamento Tributário Diferenciado (TTD). Pasmem! Justo quem dispõe de benefício fiscal se locupletar, não recolhendo o ICMS devido dentro do prazo, não passa de um deboche. Esses espertalhões que fazem suas negociatas à custa de dinheiro barato (sem recorrer a bancos/mercado) têm sim que responder por suas ações. Está certo o fisco estadual em monitorar os regimes especiais desses contribuintes.

Refletindo

“Atitudes como a de taxistas oferecendo caronas e de hoteleiros, hospedagens aos que sofreram com o ataque em show na Inglaterra são provas de que na humanidade prevalece o espírito da solidariedade à ganância.” Uma ótima semana!

Fonte: coluna “Fisco & Cidadania”, de Pedro Hermínio, publicada no jornal Diário do Sul, em 24/05/2017 – Tubarão/SC.